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Publicado em 11/06/2014
Um dos principais desafios de hoje é obter embalagens tão eficientes e baratas quanto às de plástico,
mas que não provoquem danos ao ambiente. Diversos grupos de pesquisa no mundo se dedicam a esta questão. Um
deles está no Laboratório de Embalagens de Alimentos da Embrapa Agroindústria Tropical (Fortaleza, CE).
Uma das linhas de pesquisa do laboratório é o desenvolvimento de filmes e revestimentos biodegradáveis
para alimentos à base de polímeros naturais, como amido, alginato (material extraído de algas marinhas),
cera de carnaúba, goma do cajueiro, gelatina de peixe, além de polpas de frutas. Um polímero é
uma macromolécula, natural ou artificial, constituída por unidades moleculares menores que se repetem um grande
número de vezes. Entre os polímeros considerados naturais estão a celulose, os carboidratos, as proteínas
e os ácidos nucléicos (DNA) responsáveis pelas características genéticas dos seres vivos.
Os plásticos são polímeros artificiais.
Parte dos revestimentos desenvolvidos no laboratório é comestível. A pesquisadora Henriette Azeredo
explica que as polpas de frutas têm em sua composição polissacarídeos (um tipo de polímero
natural) capazes de formar filmes, daí a possibilidade de trabalhar com essas matérias-primas para a produção
de filmes comestíveis com o sabor da fruta. "Muitos pesquisadores desenvolvem filmes comestíveis, mas poucos
trabalham em filmes que tenham sabor", ressalta a pesquisadora.
Apesar da vantagem da biodegradabilidade e de
valorizar as matérias-primas regionais, os biopolímeros (materiais fabricados a partir de fontes renováveis
como soja, milho, cana-de-açúcar, celulose e soro de leite) ainda não são capazes de competir
com os plásticos convencionais, pois alguns são mais frágeis, não permitem uma eficaz troca de
gases com o ambiente e são, muitas vezes, sensíveis à umidade.
Soluções
nanométricas
No caminho para melhorar o desempenho dos materiais, podem ser feitas modificações
químicas. Uma saída que vem sendo testada no laboratório do Ceará é o uso da nanotecnologia.
A adição de nanoestruturas de reforço melhora a resistência e a barreira a gases dos materiais.
Os materiais formados pela adição de nanoestruturas, como nanocelulose, em uma matriz (geralmente
um polímero ou biopolímero), são chamados de nanocompósitos. Os nanocristais de celulose são
cristais minúsculos (diâmetro de poucos nanômetros), de alta resistência mecânica, que são
adicionados em pequenas quantidades (na faixa de 5%), geralmente sem prejudicar a transparência dos materiais.
A equipe do Laboratório de Tecnologia da Biomassa, liderada pela pesquisadora Morsyleide Rosa, extrai nanocelulose
a partir de várias fontes, entre elas resíduos industriais como casca de coco e linter de algodão.
"Já testamos nanocelulose para filmes de polpas de frutas, quitosana (polissacarídeo encontrado em
crustáceos), gelatina, entre outros. Os resultados têm sido geralmente muito bons – o material adquire
um melhor desempenho na proteção ao alimento a ser acondicionado", diz Henriette. Atualmente, a pesquisadora
envolvida em um projeto para obtenção de filmes nanocompósitos a partir de casca de banana e
palha de trigo, um resíduo da indústria de panificação. "Estou extraindo polissacarídeos
desses resíduos e vou formar filmes adicionados de nanocelulose e outros compostos para melhorar suas propriedades",
explica.
Ainda assim, a maioria dos filmes biopoliméricos é sensível à água
– quando em contato com água, a ponto de se desfazerem quase instantaneamente. Isso é um problema, já
que limita as aplicações dos filmes. Segundo Henriette, "Para contornar isso, temos recorrido a técnicas
de reticulação, que são ligações formadas entre cadeias poliméricas, diminuindo
a mobilidade dessas cadeias e melhorando as propriedades do material, inclusive sua resistência à água".
Embalagens ativas e inteligentes
Outra linha de
pesquisa desenvolvida no Laboratório de Embalagens de Alimentos é a de embalagens ativas, que, além de
desempenharem a função básica de proteção, interagem com o produto acondicionado, absorvendo
compostos indesejáveis ou liberando substâncias que favorecem o aumento da estabilidade. Exemplos são
as embalagens que liberam compostos antimicrobianos.
No laboratório, foram realizados estudos com a adição
de antimicrobianos comerciais e naturais, como óleos essenciais de ervas aromáticas, na composição
dos filmes. Os materiais foram testados em laboratório e aplicados em embalagens de queijo coalho e foi observada a
redução das populações de bactérias na superfície do produto, ao longo do tempo.
Mas a equipe quer ir além e obter embalagens inteligentes que possam indicar, por exemplo, se o produto está
próprio para o consumo. Para isso, são realizados estudos com biossensores – dispositivos eletrônicos
que utilizam moléculas biológicas para detecção de substâncias de interesse. Entre os estudos
já realizados, foram desenvolvidos biossensores para detecção de ricina, proteína tóxica
presente na semente da mamona; detecção de peróxido de hidrogênio (substância cuja utilização
no leite é proibida, mas que é usada para aumentar a vida útil do produto) e detecção de
toxinas em queijo. Em outro projeto está em estudo a detecção de salmonela no leite. De acordo com a
pesquisadora Roselayne Ferro Furtado, o desafio é acoplar os biossensores às embalagens para torná-las
inteligentes.
Fonte: Embrapa
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