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Publicado em 22/05/2014
A Justiça francesa condenou um agricultor que se recusou a obedecer ao governo e colocar agrotóxico em suas parreiras. Emannuel Giboulot foi acusado de cometer uma infração penal, de não ter obedecido, por escolha ideológica, uma ordem do governo. A atitude é considerada uma espécie de delito do Código Rural.
Beaune é como o epicentro da Bourgogne, uma das duas regiães mais famosas de vinho da França. A bebida é um produto fundamental para a economia francesa, mas que sofre uma séria ameaça. Uma doença muito grave ronda os parreirais. A flavescence doree, conhecida no Brasil como amarelo da videira, é uma doença epidemica bacteriana. O phitoplasma que circula na seiva leva a doença para toda a planta. A cigarra se alimenta da seiva, voa e espalha a doença. Como não se conhece a cura da doença, a maneira de combate é usar um pesticida para atingir a cigarra.
Emmanuel Giboulot, um dos 500 mil produtores que vivem da viticultura na França, está no começo dessa cadeia econômica, na raiz do processo. Desde 1985, o agricultor passou a produzir um tipo de vinho chamado na França de bio, que é o orgânico no Brasil. O objetivo é praticar uma agricultura o mais respeitosa possível em relação ao meio ambiente. Ele contou que se recusou a praticar o tratamento preventivo que o governo francês obrigava a fazer por achar que usar o pesticida quando as videiras não estavam com a doença seria como envenenar as próprias terras. O produtor foi processado pelo governo. Mais de 20 organizações ecológicas mostraram solidariedade ao agricultor.
A França é terceiro país do mundo a usar mais pesticidas, perdendo apenas para os Estados Unidos e para o Japão. O governo francês prometeu diminuir o uso de pesticidas pela metade até 2018. O tema é polêmico. O assunto é complexo quando se fala em tratamentos mais ou menos tóxicos.
Emmanuel Giboulot tinha a opção de usar um pesticida considerado orgânico, à base de crisântemos. Mas o produtor não quer porque o produto é muito mais tóxico em relação ao pesticida dito industrial, que ataca apenas a cigarra. Já o pesticida natural não é seletivo e mata todos os insetos, explicou.
Mas essa é uma doença difícil de detectar. O agrônomo Olivier Lapotre, que trabalha para o governo francês na região, diz que o viticultor está errado. “É necessário se fazer uma previsão de onde a doença pode aparecer e tratar preventivamente porque quando se vê os efeitos dela na planta já é tarde demais. O amarelo da videira já estaria circulando pela seiva há pelo menos um ano. Como não se conhece a cura, o único jeito é eliminar o inseto transmissor”, diz.
A doença está na Bourgogne desde 2011. Chegou à França vinda da América do Norte e já tem uma presença muito grande no Sul do país. A videira atingida e outras próximas precisam ser arrancadas para tentar acabar com o problema.
Emannuel Giboulot poderia ter recebido uma pena de até seis meses de prisão e pagar uma multa de 30 mil euros, o equivalente a quase R$ 100 mil. Mas a juíza condenou o agricultor a uma pena quase simbólica. Ele pagou 500 euros, que equivalem a pouco mais de R$ 1,5 mil. Ainda assim, o produtor irá apelar da decisão.
Giboulot virou uma espécie de mártir da causa orgânica. Os demais produtores foram retratados como um rebanho dócil, que aceita fazer o que é mandado pelos grandes laboratórios químicos. Mas não é bem assim. Jean Michel Aubinel é o presidente do Sindicato de Viticultores da Bourgonha. “Nós estamos evoluindo, como toda a sociedade, em relação ao respeito ao meio ambiente. Eu tenho filhos e quero transmitir para eles um mundo melhor possível. Mas, como toda profissão, existe o cálculo de risco e existe também a economia. Nós temos empresas, empregados, nossas famílias vivem disso”, diz Michel Aubinel.
Realmente, a indústria do vinho da França é um gigante econômico. Por render tanto dinheiro, qualquer doença grave, como o amarelo da videira, pode ser potencialmente desastrosa. Os parreirais da frança ocupam apenas 4% da área total usada para agricultura, mas são responsáveis por 20% de todos os pesticidas usados no país.
Veja o vídeo e a reportagem completa em Globo Rural
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