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Publicado em 10/04/2014
Ela já teve valor, mas depois de usada, suja e maltratada, a cédula de real passa a ser, simplesmente, um passivo ambiental. E o Banco Central (BC), que recolhe 2,3 milhões de notas chamadas de inservíveis no país por ano, precisa encontrar um destino mais nobre do que mandar toneladas de papel-moeda para ocuparem espaço em aterros sanitários. Em Curitiba, uma empresa transforma dinheiro picotado em um composto orgânico usado na recuperação de áreas degradadas.
O diretor do Departamento do Meio Circulante do BC, João Sidney Figueiredo Filho, conta que, no passado, todas as cédulas recolhidas eram queimadas. O dinheiro velho virava fumaça. Não era a melhor solução.
Atualmente, são três os projetos desenvolvidos pelo BC para reaproveitar o papel das notas, seja como adubo ou enfeitando capas de caderno. A técnica usada em Curitiba foi desenvolvida pela empresa Conspizza. As notas picotadas viram uma massa semelhante ao algodão que recebe um feijão na clássica experiência escolar. “Faço uma mistura com diversos tipos de resíduos, como filtros de cigarro, e coloco adubo e sementes. Vira uma massa que é injetada, com uma máquina, no terreno degradado. A semente se desenvolve e desce para o solo”, conta o empresário Ângelo Pizzatto, que trabalha com o reaproveitamento de resíduos há quatro décadas.
Pizzatto explica que se o papel picado fosse enterrado em grandes quantidades e sem ser misturado a outras substâncias, ele poderia gerar rejeitos poluentes, como a tinta. Mas, mesclado com material orgânico, acaba sendo decomposto por micro-organismos. O empresário chegou ao dinheiro velho procurando por materiais que eram jogados fora, mas que podiam ser aproveitados. É uma parceria: Pizzatto não cobra nem paga nada ao BC para usar os resíduos e dar destino a eles.
Processo
Logo após o recolhimento, as notas inservíveis são perfuradas antes mesmo do transporte. Ao chegar à regional do BC, elas são fragmentadas. Os sacos com cédulas picotadas são encaminhados para as empresas parceiras, que auxiliam o BC na destinação correta dos resíduos. A única unidade que reaproveita todas as notas que recolhe é a regional de Curitiba, que concentra as coletas do Paraná e de Santa Catarina. Atualmente, só 7% do volume de dinheiro velho no Brasil é reaproveitado. A estimativa é que, em cinco anos, todas as cédulas inservíveis tenham uma destinação melhor que o incinerador.
O projeto da Universidade Federal Rural do Amazonas (UFRA)
Quem acredita no ditado de que o dinheiro é a raiz de todos os males poderia rever sua posição se conhecesse um projeto apoiado pelo Banco Central (BC), que transforma cédulas que saem de circulação em adubo para lavouras de agricultores familiares do Pará. Picotado e sem valor, o papel-moeda serve para fertilizar e regenerar os solos da região através de um composto que leva também palhas e restos de frutas e verduras.
O projeto da Universidade Federal Rural do Amazonas (UFRA) é um dos preferidos do BC para se adequar à Política Nacional de Resíduos Sólidos pelo aspecto social, já que pode beneficiar comunidades de agricultores familiares.
A vantagem é que essa compostagem tem custo praticamente zero para os agricultores que detêm nas propriedades os componentes necessários para a compostagem. O adubo feito com dinheiro vai reduzir o custo da produção, pois o esterco de ave, de melhor qualidade que o de boi, pode chegar a R$ 150 a tonelada.
Serão feitas análises de macronutrientes, micronutrientes, metais pesados e grau de humificação de 120 amostras. Esses testes têm o objetivo de verificar, principalmente, a quantidade de nitrogênio, fósforo e potássio, entre outros elementos químicos, necessários para que as plantas cresçam, floresçam e deem frutos.
Em três anos de pesquisa, o BC liberou R$ 100 mil em dinheiro de verdade para custear bolsas de iniciação científica e despesas com análises químicas. O projeto também recebe apoio da fundação de pesquisa e do governo do Pará. Até agora, são usados 500 quilos de cédulas velhas da regional do BC em Belém, mas o propósito é que todas as 13 toneladas de dinheiro picotado mensalmente pela regional virem adubo.
José Justino Frutuoso, de 74 anos, primeiro aprendeu na universidade os procedimentos para fazer o adubo. Ele conta, rindo, que é muito "estranho" pensar que dinheiro não dá em árvore, mas ajuda árvore crescer.
Fonte: Gazeta do Povo e O Estadão
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