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Cadeia de produção integrada é solução para resíduos agroindustriais

Publicado em 07/06/2013

Pesquisadora da Embrapa sugere uso comercial de resíduos e unidades mais próximas

FONTE: Globo Rural

por Karin Salomão | Edição: Hanny Guimarães
Editora Globo
Pesquisadora da Embrapa falou sobre “Aproveitamento de coprodutos e resíduos agroindustriais: um olhar sustentável” durante a Semana do Meio Ambiente (Foto: Karin Salomão/Arq. pessoal)

Uma tonelada de banana gera quatro toneladas de resíduos orgânicos. No caminho entre a lavoura e o consumidor final, 20% a 30% dos grãos, frutas e hortaliças são desperdiçados. Metade do peso da laranja é feito de casca, sementes e bagaço, que também são desprezados. Para evitar o desperdício e gerar lucro a partir dos resíduos, a melhor solução é pensar em uma cadeia de produção integrada, segundo a engenheira química Ana Iraidy Santa Brígida.

A pesquisadora da Embrapa falou sobre “Aproveitamento de coprodutos e resíduos agroindustriais: um olhar sustentável” durante a Semana do Meio Ambiente, realizada pelo Instituto de Biologia da Universidade de São Paulo. Para comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente, o instituto realiza uma série de palestras sobre sustentabilidade.

Segundo ela, cada processo de produção não deve ser pensado de forma isolada, mas interligada para evitar desperdícios. Unidades próximas e reaproveitamento de resíduos também estão entre as principais soluções. Além disso, algumas cadeias podem gerar resíduos ou subprodutos bastante rentáveis. No caso da laranja, o óleo tem alto valor comercial para produção de aromas, alimentos, produtos de beleza ou de limpeza. Na cadeia produtiva da cana, o Brasil é um dos países pioneiros a pesquisar o etanol de segunda geração, feito a partir de resíduos agrícolas, como o bagaço da cana, palhas e outros tipos de biomassa vegetal.

Confira abaixo a entrevista com a pesquisadora Ana Iraidy Santa Brígida.



Globo Rural: Quais são os setores ou indústrias que mais geram resíduos?

Ana Iraidy Santa Brígida: A nível de impacto econômico, a cadeia produtiva da soja, da cana-de-açúcar, do trigo e do arroz. Com as palhas e bagaços gerados, esses são os maiores produtores pontuais de resíduos. Por isso, hoje, o Brasil está desenvolvendo e investindo na tecnologia do etanol de segunda geração, por causa da grande geração de resíduos.

Quais são as indústrias mais avançadas quanto à destinação sustentável de seus resíduos?

Quando pensamos no conceito de biorrefinarias, as indústrias no Brasil que melhor estão caminhando para uma cadeia integrada são as cadeias produtivas da cana-de-açúcar e da laranja.

A da laranja ainda tem alguns gargalos, mas por questões econômicas. Se eu produzo casca de laranja, mas em pequena quantidade, não é economicamente viável extrair a pectina (polímero da laranja que pode ser usado na indústria alimentar, em gelatinas ou para aumentar a densidade de alimentos), um grande subproduto da cadeia.

Quais são as principais inovações na área dos últimos anos?

A grande inovação vem sendo a corrida para o etanol de segunda geração. É uma necessidade que nós temos, pela demanda energética. Obviamente, essa geração não está em uma condição economicamente viável, mas já temos uma usina que está sendo implantada no Brasil, que está sendo pioneira nisso (usina GranBio, em Alagoas, será a primeira no Brasil e tem previsão de inauguração em 2014). A questão é desenvolver cada vez mais esse processo para que ele possa se espalhar. É a inovação, hoje, mais próxima do agronegócio.

Existe alguma ideia de quanto é desperdiçado economicamente por não reaproveitar os resíduos?

Não. Não dá para colocar tudo no mesmo bolo. Se você parar para pensar que, para produzir um litro de laranja você tem um desperdício de aproximadamente 50% em massa. Cada cadeia vai ter um valor. Os subprodutos e resíduos de cada cadeia são diferenciados. Você não consegue ter o rastro disso.

Quais são as principais dificuldades para fazer um ciclo sustentável?

A grande dificuldade é trazer a questão da consonância. Muitas vezes, você tem ideias de atividades que podem ser desenvolvidas aqui ou acolá. Mas é viável, pensando no transporte, na interligação que esse processo precisa?

No caso da indústria da laranja, resolve-se muito bem esse problema internamente, porque tudo acontece em um setor. Ela já vende subpacotes que vão ter aproveitamento. Em outros casos, isso não será possível. A ideia é que, uma vez que uma única unidade não consegue desenvolver tudo, outras estejam logisticamente próximas para ser mais viável.

Nas maiores dificuldades, entra também conseguir o incentivo (governamental) para essas instalações e tecnologias e incentivo fiscal para que essas indústrias se espalhem, se desenvolvam.
Como a Embrapa está auxiliando o produtor nesse processo para aumentar a sustentabilidade?

A Embrapa trabalha desde o início da cadeia produtiva, auxiliando inclusive aquelas indústrias que dão apoio à atividade agrícola. Dentro da atividade agrícola o apoio é mais forte e também há apoio na indústria de processamento. A Embrapa atua em toda a cadeia, junto ao pequeno e grande produtor para desenvolver tecnologias ou até mesmo transferir tecnologias que já foram desenvolvidas. Também treina comunidades para que ela esteja capacitada para atuar naquela região e com aquela tecnologia.

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