Já parou para observar que nas vitrines a presença dos manequins acima do 46 ainda é discreta? O tamanho pode ser encontrado nos catálogos que divulgam os últimos lançamentos das lojas, mas nas passarelas ainda é raro. O plus size, numeração de roupas que se enquadra em mais da metade da população brasileira, movimenta um mercado bilionário, mas que ainda é rotulado como fora do padrão. Um preconceito que tem gerado perdas para todos.
Ano passado, segundo dados da Associação Brasileira de Plus Size (ABPS), o mercado de vestuário para tamanhos acima do 46 movimentou R$ 7,2 bilhões, registrando crescimento de 8%. Esse aumento é reflexo do comportamento humano - pesquisa feita pelo Ministério da Saúde em 2017 mostra que 110 milhões de brasileiros adultos (54% da população) têm sobrepeso.
Para a presidente da ABPS, Marcela Elizabeth, a padronização da beleza 'magra' e o desconhecimento do potencial consumidor do mercado plus size são os principais fatores influenciadores do cenário ainda tímido de oferta. "O lojista até tenta comprar um tamanho maior, mas tem vários receios. Ele tem medo de perder o público que já tem, de ser tachado como dono de loja para gordos. Ainda existe muito tabu com o público obeso. Há um imenso desconhecimento quanto ao público plus size. Esse número (de vendas) poderia ser muito maior", afirmou Elizabeth ao Jornal Estado de Minas. Segundo levantamento feito pela associação, 63% dos consumidores relatam dificuldades em encontrar roupas - opções e tamanhos - e 77% ainda consideram difícil encontrar peças bem modeladas e que vistam bem.
Matéria-prima para a produção de peças de vestuário e calçados de tamanhos maiores também é um desafio para o mercado. "Certa vez, um empresário de camisetas nos disse que não tinha chapa de silk screen para tamanhos acima de GG. Quem faz sutiã não tem aro e nem bojo acima de 48/50. O mercado plus size precisa ser alimentado por todo o outro restante de vestuário. De tecido ao acessório", afirma Marcela. Ela explica que a associação tem investido na qualificação dos produtores e profissionais envolvidos na criação da moda para atender a essa demanda. "Muitas mulheres obesas nunca conseguiram usar uma bota porque não fecha. Existem muitas faltas, muitas coisas a serem consideradas para o mercado plus size. Temos promovido palestras, cursos, conversado nas universidades e com estilistas importantes para melhorar essa comunicação", comentou ela ao jornal.
Lojistas
A empresária Orjana Fabiana Baroni, dona da loja Carllota, trabalha há 19 anos com o mercado da moda e sempre se preocupou em atender todos os públicos. Nesse período ela percebeu uma carência de oferta e um mercado em crescimento, e há dez anos resolveu se dedicar somente à moda plus size. "O público jovem foi aumentando e, realmente, não achava roupa para comprar. Até pra gente comprar pra revender era difícil. Aí, decidi criar os looks e fabricar as peças", afirma Orjana. Além de confecção própria, a Carllota modas plus size atualmente vende também para o atacado. "Eu sempre investi muito. Nós sempre fazemos desfiles. Toda semana são duas ou três sessões fotográficas com modelos profissionais, biotipos diversos, para apresentar os novos looks", comenta.
De acordo com levantamento de 2018 da ABPS, o número de lojas físicas especializadas em plus size em território nacional é de 12.305, seguido de 632 negócios digitais. Números que correspondem a 25% do varejo de vestuário.
Mercado de luxo
A Dolce & Gabbana, uma das marcas de luxo mais reconhecidas em todo o mundo, vai expandir os tamanhos de suas roupas de sua próxima coleção antes do outono de 2020. A ideia é passar de tamanhos destinados apenas para meninas magras para chegar ao XXXL - até o tamanho 54, de acordo com as medidas italianas, ou 22, conforme a tabela britânica.
É a primeira casa de moda das mais tradicionais do mundo a se dedicar a ampliar seus tamanhos para atender ao público plus size. Até então os esforços da marca para uma moda mais inclusiva tinham sido simplesmente elevar modelos e tamanhos para suas passarelas.
Com informações do site em.com e revista Pazes.
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