Um grupo de cientistas do Departamento de Biologia da Universidade de Victoria, no Canadá, fez um levantamento inédito para descobrir quanto de plástico é ingerido por pessoa durante um ano. Liderados pelo pesquisador Kieran Cox, os pesquisadores relacionaram dados de 26 estudos que levantaram quantidades de partículas de microplásticos em peixes, moluscos, açúcares, sais, álcoois, água - de torneira e engarrafada - e no próprio ar.
Como resultado constataram que a ingestão de microplásticos varia de 74 mil a 121 mil partículas por ano, conforme idade e sexo. Descobriram também que pessoas que ingerem água em garrafas de plástico estão mais expostas ao material. "Indivíduos que cumprem sua ingestão de água recomendada apenas por meio de fontes engarrafadas podem estar ingerindo mais 90 mil microplásticos anualmente, em comparação com 4 mil microplásticos para quem consome apenas água da torneira", pontua Cox, em artigo publicado no periódico científico Environmental Science & Technology.
Segundo o estudo, crianças do sexo feminino ingerem 74 mil partículas em média, contra 81 mil de crianças do sexo masculino. No caso dos adultos, mulheres ingerem uma média de 98 mil microplásticos enquanto os homens, 121 mil - na hipótese de isso ser feito de uma só vez, seria o equivalente a engolir uma fita plástica de 605 metros.
Em 2018, uma pesquisa, realizada por cientistas sul-coreanos em parceria com a ONG Greenpeace, encontrou microplásticos em sal de cozinha em 36 de 39 marcas analisadas. No mesmo ano, um estudo, desenvolvido pelo médico Philipp Schwabl, da Divisão de Gastroenterologia e Hepatologia da Universidade de Medicina de Viena, na Áustria, encontrou partículas de microplásticos em fezes humanas colhidas em oito países diferentes: Finlândia, Itália, Japão, Holanda, Polônia, Rússia, Reino Unido e Áustria. Na ocasião foram encontrados nove tipos diferentes de partículas plásticas: PP, PET, PU, PVC, PA, PC, POM, PE e PS.
Efeitos sobre o corpo humano
Ainda pouco se sabe sobre quais os efeitos que os microplásticos podem vir a ter no corpo humano. "Embora existam primeiros estudos em animais mostrando que partículas de microplástico têm potencial de causar danos a organismos, não há conhecimento suficiente sobre o impacto médico de tais partículas quando deglutidas por humanos", afirma o médico Philipp Schwabl. "Mais estudos são necessários para elucidar esse tópico importante".
O médico toxicologista Anthony Wong, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-USP), em entrevista para a BBC News Brasil, demonstrou preocupação com elevado número de micropartículas que estão sendo ingeridas. Wong alertou que substâncias plásticas podem eventualmente se aglutinar dentro do organismo e se tornam, com o tempo, uma obstrução para o esvaziamento estomacal. "Isso realmente ocorre e já foi verificado em peixes e outros animais marinhos. São obstruções mecânicas que podem ocorrer no estômago, no intestino delgado e na válvula ileocecal", diz.
Para ele há um risco para a mucosa do estômago. "Ela é feita de vilosidades. Essas substâncias plásticas podem entrar e então provocar inflamação ou mesmo obstrução, impedindo a absorção dos alimentos", completa. Além disso, segundo o médico, os microplásticos sofrem degradação pelas enzimas digestivas. "E, assim, liberem no organismo substâncias tóxicas", explica.
O especialista lembra que mesmo as partículas sendo pequenas, ao longo do tempo podem causar problemas. "Evidentemente que algumas causam doenças, outras causam tumores", afirma Wong. Já foi constatado, por exemplo que a substância bisfenol A, composto utilizado na fabricação de plásticos de policarbonato (chamado de PC), pode promover tumores e alterar funções hormonais - alterando funções de hormônios sexuais.
Com informações da BBC News Brasil.
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