clique para ampliarclique para ampliar (Foto: Gazeta do Povo)

Com a expectativa de intensificação das disputas comerciais nos próximos anos no mercado mundial, o agronegócio sul-americano precisa se preparar e enxergar as oportunidades e desafios deste cenário em constante mutação. O tema esteve em debate, por especialistas em comércio exterior, durante o 7º Fórum de Agricultura da América do Sul, que aconteceu no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba (PR), nos dias 5 e 6 de setembro.

Desde agosto, por exemplo, a China suspendeu a compra de frango dos Estados Unidos. A medida, reflexo da guerra comercial entre os países, pode ser uma oportunidade para o Brasil ampliar suas participações nas exportações da proteína animal para o País asiático. Com as barreiras tarifárias americanas e o avanço da peste suína em algumas regiões, o diretor de Inteligência de Mercado na INTL FCStone Intelligence, Renato Rasmussen, acredita no potencial brasileiro para ser o principal fornecedor chinês. “Temos condições para transportar esses produtos e os preços já vêm reagindo a essas condições”, comentou.

Para a diretora executiva do CME Group, Susan Sutherland, que também participou do debate, é necessário encarar as incertezas do mercado de forma mais madura. “O mercado é desafiador e devemos estar cientes que o valor das movimentações futuras e opções podem mudar dependendo de eventos naturais e geopolíticos”, afirmou. Susan ainda acrescentou que em relação à guerra comercial, 71% dos chineses não acreditam que ela será resolvida a curto prazo, contra 29% que estão otimistas. O painel foi mediado pelo coordenador geral de Acesso a Mercado do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), Gustavo Cupertino.

As soluções e o impacto desses atritos foram discutidos na Conferência da Organização Mundial do Comércio, conduzida pelo diretor da Divisão Agrícola e de Commodities da entidade, Edwini Kessie, que defendeu a necessidade do fortalecimento da Organização, passando por sua reformulação. “Precisamos nos reinventar de uma forma mais proativa, países estão assinando acordos bilaterais devido à frustração que eles têm com a OMC”, afirmou. Para Kessie, essa reformulação é essencial para que os sistemas multilaterais sejam mais efetivos. A conferência foi mediada pelo especialista em comércio exterior Fábio Carneiro Cunha, da Legex Consultoria.

Indústria

 

O futuro da indústria alimentar também é uma das preocupações do setor. Para o coordenador de negócios do Instituto de Tecnologia do Senai, Alcides Sperotto, as mudanças nos hábitos de consumo e o aumento populacional são fatores predominantes na discussão. “O principal desafio é gerar alimento e o mundo está de olho no Brasil. A ideia é começarmos a colocar mais pesquisa e tecnologia no alimento, aumentando seu valor agregado, financeiro e nutricional” afirmou na palestra “O Desafio Interdisciplinar de Abastecimento”, com participação do diretor executivo da Frimesa, Elias Zydeck, e mediação do superintendente do Sistema OCB, Renato Nobili.

É importante que a indústria também esteja de olho no mercado árabe, que tem sido um importante potencial de oportunidades para o setor de proteína animal brasileiro. O Brasil é hoje o maior exportador mundial de proteínas animais para o mercado muçulmano, respondendo por 52% da carne halal enviada aos países islâmicos. Para o diretor geral do Cdial Halal, Ali Saifi, esse é o momento de entender as peculiaridades desse mercado para que os setores de aves, bovinos e suínos continuem a crescer e se desenvolver. Para o debate, estiveram presentes também o secretário adjunto do Mapa, Fernando Augusto P. Mendes, e o Secretário da Agricultura e Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara.

Acordo Mercosul e União Europeia

A metade das exportações de bens do Mercosul para a União Europeia corresponde a bens agrícolas. “Se destacam as vendas ligadas à cadeia de soja, carne de vaca (refrigerada e congelada), café, celulose, suco de laranja, tabaco e milho. Esses produtos concentram cerca de 80% do comércio de bens de base agrária realizada entre os dois blocos”, afirma a economista Maria Noel Ackermann, do Consejo Agropecuario del Sur (CAS).

O Mercosul atualmente não possui muita inserção nas cadeias que agregam valor. Exporta produtos, commodities agrícolas, mas não necessariamente realiza a inserção de uma cadeia que agrega valor e que vai para o mundo. Emuly Rees, consultora e especialista em política comercial da União Europeia, acredita que com o acordo isso vai mudar. Para ela, o acordo é o primeiro impulso, e será o início para uma inserção que continuará com o fechamento da Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA) e seguirá com as negociações com acordos com a Cingapura, Coreia, Canadá e talvez uma abertura com o Japão.

“O acordo vai criar um espaço muito grande, os dois blocos representam 25% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Quando você tem um alinhamento entre esses dois blocos é possível criar uma competitividade no mundo. São 763 milhões de pessoas com uma variedade de demanda, mas também de produtos diferentes”, afirma.

 Sobre o Fórum de Agricultura da América do Sul

O projeto-piloto do Fórum foi realizado em 2013 e levou para Foz do Iguaçu (PR) mais de 500 inscritos para discutir os desafios e oportunidades do agronegócio global a partir da realidade sul-americana. Desde então, o evento reúne anualmente especialistas e participantes de todo o mundo, trazendo à pauta assuntos como inovação e sustentabilidade, desenvolvimento urbano pela economia rural e sucessão no campo. Em 2019, o evento teve como tema “Da Produção ao Mercado – Global e Sustentável”.

Realizado pelo Núcleo de Agronegócio da Gazeta do Povo (AgroGP), o evento tem parceria/apoio dos Sistema Ocepar e OCB, Prefeitura de Curitiba, Sistema Confea-Crea, Sistema Fiep, CME Group, Sanepar, Copel e Conselho Agropecuário do Sul (CAS).

Com informações da Agência Fiep.

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