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Crônica de Natal: "O bom de ser criança"

SindusconNOR-PR deseja aos associados e parceiros que o espírito natalino esteja presente em todos os dias de 2017, preenchendo o ano inteiro de paz, amor e harmonia

clique para ampliarclique para ampliarQue a magia do Natal permaneça em seu coração em todos os dias de 2017 (Foto: Freeimages

Acordo cedo e saio a caminhar pela casa. Entro na sala de estar, que ainda tem os destroços da festa. Papel de embrulho descartado, restos da algazarra que fizemos abrindo os presentes na noite anterior. Os cheiros da festa também ainda estão no ar. Bebida, peru assado.

Lembro que os presentes também tinham cheiro. Bola de futebol nova, por exemplo. As bolas eram de couro mesmo, com a cor natural e o cheiro do couro, e com cadarço. Você não sabia se já saía chutando a bola ou se guardava aquela preciosidade a salvo de chutes e arranhões, só para cheirar.

Lembro que no mesmo Natal em que ganhei minha primeira bola de tamanho oficial ganhei outro presente: um kit com uma estrela de xerife, um revólver, um cinturão de caubói com coldre e um cilindro cheio de fitas de espoletas. Colocava-se uma fita de espoletas no revólver e acionava-se o gatilho, fazendo estourar as espoletas.

Outro cheiro inesquecível do Natal, o de espoleta recém-deflagrada. Sem saber escolher entre um presente e outro, eu afivelei o cinturão (com babados no coldre) em torno do corpo franzino e saí abraçado com a bola e dando tiros, iniciando uma carreira inédita de jogador de futebol caubói, até a mãe ordenar que parasse porque ninguém conseguia conversar na sala. E foi nesse Natal que conheci o Papai Noel.

Tinham anunciado que naquele ano receberíamos o Papai Noel em casa.

Ele não deixaria apenas os nossos presentes, misteriosamente, como das outras vezes. Apareceria. Em pessoa! E à noite lá estava o Papai Noel batendo na nossa porta, e sendo recebido por mim, minha irmã, um primo e várias crianças da vizinhança, todos de boca aberta. Era ele mesmo, não havia dúvida. A roupa vermelha grossa, o gorro, a barba branca, as bochechas rosadas e o saco.

O maravilhoso saco, de dentro do qual tirou nossos presentes - a bola de futebol, o revólver de espoleta, como ele sabia que era o que eu queria? Depois deu tapinhas na cabeça de cada um, disse qualquer coisa e desapareceu. Mais tarde entrei na cozinha e dei com o Papai Noel sentado, conversando com a cozinheira e tomando uma cerveja. Tinha tirado a máscara. Reconheci a sua cara suada: era o Bataclan, uma figura folclórica de Porto Alegre, um negro que fazia propaganda - "reclame", chamava-se então - na rua. Não lembro como eu racionalizei a revelação. Se deixei de acreditar no Papai Noel ali mesmo, se passei a acreditar que o Papai Noel, quando não estava em serviço, era o Bataclan, e vice-versa. Talvez não tenha concluído nada. O bom de ser criança é que a gente não precisa racionalizar.”

O texto acima é do cronista Luiz Fernando Veríssimo. A leitura nos faz revirar os baús da memória, que guardam momentos especiais que desfrutamos com nossos familiares nas celebrações de Natal. As palavras do cronista nos proporcionam uma viagem no tempo, e nos fazem lembrar que um dia também esperamos ansiosos pela figura do bom velhinho, ganhamos os brinquedos que pedimos nas cartinhas ou fomos surpreendidos por um presente inesperado. Recordar a infância nos transporta para momentos de inocência e ternura, que enchem nosso coração de alegria.

Desejamos que, neste Natal, cada um de nós tenha a oportunidade de voltar a ser criança, de esquecer as adversidades da “vida adulta”, sem precisar “racionalizar”, como sugere Luiz Fernando Veríssimo, e vivenciar toda a magia em torno deste momento. Afinal, esta é a época mais gostosa do ano, em que reservamos um tempo para rever a família e os amigos e presentear as pessoas queridas. É também um período que doamos e recebemos amor e carinho.

E, em 2017, desejamos que possamos comemorar muitos Natais, em épocas incertas, sem aviso prévio ou presença do Papai Noel, em grupos pequenos de parentes, amigos e amores, unidos na paz e na confiança de Deus. 

Feliz Natal e um Próspero Ano Novo!

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