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Metamorfose ambulante

29 de maio de 2011

Em 20 anos, a Mangels, do setor de autopeças, adotou diversos projetos de reestruturação. Mas os resultados ficaram aquém do esperado. Agora, a empresa anuncia, mais uma vez, nova guinada na estratégia dos negócios

Por Rosenildo Gomes Ferreira

O setor brasileiro de autopeças sofreu uma verdadeira reviravolta nos últimos 20 anos. Marcas tradicionais como Cofap e Metal Leve foram parar nas mãos de corporações estrangeiras. Uma das que resistiram bravamente foi a Mangels, cujas receitas totais somaram R$ 1 bilhão, em 2010. Apesar de produzir laminados de aço e cilindros (especialmente botijões de gás), a companhia é mais conhecida como a maior fabricante de rodas de alumínio do País, que garantem 33% de seu faturamento.

No início do ano, a Mangels anunciou a saída do varejo para se concentrar apenas no atendimento às montadoras. A medida fez parte de mais um pacote de reestruturação adotado pela empresa, baseada em São Paulo. Os resultados, pelo que indica o balanço do primeiro trimestre, ainda deixam a desejar. É que, apesar de sua receita bruta ter crescido 7%, para R$ 235,4 milhões, em relação ao mesmo período de 2009, a rentabilidade caiu quase à metade. 

Mudanças em série: Desde que assumiu o comando, em 1981, Bob Mangels já fez várias correções de rota na empresa O Ebitda, indicador que mede o ganho excluindo pagamento de juros, impostos, dívidas e amortizações, ficou em R$ 9,9 milhões. Apesar disso, o presidente e controlador da empresa, Robert Max Mangels, se mostra otimista. "Vamos acompanhar o crescimento do setor automotivo", disse ele, durante apresentação do balanço trimestral a analistas, na terça-feira 24.

A Mangels vem se comportando como uma espécie de metamorfose ambulante desde que Bob, como ele é mais conhecido, assumiu o comando em 1989. Integrante da terceira geração da família que fundou, em 1928, uma fábrica de baldes, no bairro da Mooca, em São Paulo, o empresário vem adotando seguidos planos de reestruturação para se adaptar às mudanças do mercado. Fez quatro grandes correções de rota nesse período: 1991, 1999, 2006 e 2010. Com intervalos cada vez menores, saindo de oito para apenas quatro anos. Essa tática é condenada pelos manuais de boa gestão empresarial, que recomendam a definição de um plano estratégico de médio e longo prazos. Procurado, Bob, por meio de sua assessoria, informou que não daria entrevistas.

A decisão da Mangels de se concentrar no fornecimento de rodas apenas às montadoras não foi bem recebida pelos analistas do setor automotivo. "Ao sair do varejo de autopeças, a empresa deixa de atuar em um segmento em que os ganhos unitários são maiores", diz José Rinaldo Caporal Filho, diretor da consultoria Megadealer Auto Manegement."Ainda mais agora que os brasileiros embarcaram na onda da personalização de seus veículos e já aceitam pagar mais por equipamentos exclusivos como rodas esportivas." Não é o que pensa o presidente da Mangels. Segundo ele, já não valia a pena disputar espaço em um nicho que garantiu somente 5% das vendas, de R$ 330,8 milhões, obtidas pela divisão em 2010. "A perda de competitividade não é apenas da Mangels, mas do setor industrial", disse. O sócio da consultoria americana The Hunter Group, Win Van Acker, discorda. "Não se deve abrir mão de um mercado como esse", afirma.

O projeto de internacionalização também vem sendo mudado ao sabor dos acontecimentos de curto prazo. Até 2008, a meta de Bob era abrir uma filial da Mangels no México, tendo como ponta de lança a divisão de rodas. O plano foi abortado no início de 2010, quando o empresário passou a falar em Colômbia e Argentina. Declarações recentes, no entanto, dão conta de que a internacionalização será arquivada e substituída pela abertura de uma filial em algum Estado da região Nordeste. De concreto, foi feita até agora uma tímida ampliação da fábrica de Três Corações (MG), onde a Mangels espera produzir 2,9 milhões de rodas neste ano. Pretensão, apenas, não basta. Para atingir esse objetivo, a empresa depende da evolução da produção local de veículos.

Apesar das boas perspectivas para o segmento, fatores estruturais têm retardando o passo de montadoras importantes, como Toyota e Honda, que tiveram de paralisar ou reduzir temporariamente suas linhas de montagem por conta do desabastecimento de peças vindas do Japão. Além disso, o contínuo fortalecimento do dólar em relação ao real fez disparar a importação de veículos, incluindo os modelos vindos da China. No acumulado janeiro-abril, foram vendidos 52.074 automóveis e utilitários produzidos no Exterior. Trata-se de um incremento de 97,1% em comparação a igual período de 2010. Como a Mangels não é fornecedora de boa parte dessas companhias, ela deixa de faturar nas vendas diretas e também no mercado de reposição. Será que vem mais uma reestruturação por aí?


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