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Essa é apenas uma das tendências no setor automotivo, que fica ainda mais verde graças a baterias
com maior autonomia e a reciclagem de combustíveis
O mês de março revelou novas perspectivas para que a indústria automotiva consiga se adaptar às
exigências ambientais do consumidor moderno. Carros mais leves, com menor consumo de energia e maior rendimento e durabilidade,
são tendência para os próximos anos, mas ainda não existe um modelo claro para a construção
do primeiro carro popular ecológico. A tecnologia para que o objetivo seja alcançado encontra-se em plena fase
de desenvolvimento e montadoras do mundo inteiro expõem suas melhores propostas em carros-conceito. Mesmo as marcas
menores têm uma chance de crescimento graças à inovação: as melhores ideias podem partir
de coisas tão simples e cotidianas quanto uma casca de banana.
O professor Alcides Leão, da Unesp, é
um dos nomes que podem ajudar a reinventar a indústria automotiva. Ph.D. em ciência florestal pela Universidade
de Wisconsin, nos Estados Unidos, Leão e seus alunos desenvolveram em laboratório uma fibra de nanocelulose
quase tão resistente quanto o Kevlar (usado em coletes à prova de bala), e até 30% mais leve. "São
como membranas orgânicas que juntam dois materiais de características diferentes em um só, mais econômico
e resistente", explica Vitor Surian Gamba, mestrando em ciência florestal sob a tutela do professor Leão. O polímero
combina fibras vegetais de plantas como a banana e o abacaxi a elementos plásticos derivados do petróleo, tornando-os
até quatro vezes mais resistentes. O polímero foi apresentado no dia 27/03, no 241º Encontro da Sociedade
Química Americana, em Anaheim, no Estado da Califórnia.
O material tem tudo para substituir peças
de alumínio e aço, tomando praticamente toda a estrutura dos veículos. Mas as inovações
não ficam apenas do lado de fora: cientistas em lugares tão diferentes quanto Roma e o Estado americano de Illinois
trabalham para desenvolver um novo modelo de bateria mais eficiente para os carros elétricos - que vivem um boom nos
Estados Unidos, na Europa e em alguns países asiáticos. As novas baterias de Lítio-ion (Li-ion, mesmo
material usado em aparelhos como celulares e laptops) prometem cargas mais rápidas e eficientes, garantindo maior autonomia
para os veículos elétricos e reduzindo a dependência de combustíveis fósseis. Chamadas de
"baterias de alta performance", elas ainda vão ajudar a reduzir o consumo de energia dentro de casa, garantindo cargas
mais rápidas em eletrônicos domésticos.
Realidade
Com uma proposta mais imediata para redução de danos, cientistas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido,
apresentaram também na conferência da ACS um novo método para converter o óleo de motor usado em
combustível limpo. A técnica de reciclagem usa aquecimento por micro-ondas, transformando o óleo (misturado
com um material absorvente) em gases e líquidos reutilizáveis. O processo não é novo, mas passa
a tornar se muito mais eficiente, reduzindo a emissão de poluentes na atmosfera. Anualmente, são despejados
no meio ambiente cerca de 30 bilhões de litros de óleo de motor usado. Parte dele é convertida em combustível
para aquecimento de edifícios, ou re-refinado como lubrificante mais uma vez. "De qualquer forma, ambos os usos estão
longe do ideal, devido à poluição causada pela queima do óleo", diz o pesquisador-chefe do projeto,
Howard Chase.
A nova tendência de mercado ainda engatinha, com diversos projetos nunca saindo da fase de conceito
e desenvolvimento. Por enquanto, ainda chegam ao consumidor final apenas reinterpretações de tecnologias conhecidas,
que buscam reduzir o consumo de combustível a partir de peças mais leves e motores mais eficientes - quase sempre
sacrificando o desempenho do carro, que acaba enquadrado em nichos de mercado específicos de consumidores urbanos.
Novidades
como o plástico reforçado com fibra de carbono (CFRP), já utilizado em carrocerias de automóveis
de luxo, ainda devem levar algum tempo para chegar às linhas de montagem de todo o mundo - mesmo após evoluções
como a apresentada pela montadora japonesa Teijin, que revelou no começo de março um novo modelo para a produção
em massa do material. O carro-conceito da Teijin é praticamente um esqueleto de automóvel, com cabine pesando
apenas 47 kg (cerca de um quinto do peso de uma cabine tradicional) e usando bateria com 100 quilômetros de autonomia.
Por Fred Leal