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Indústria automobilística tem estoque para mais de um mês de vendas; carros importados devem ganhar espaço no mercado brasileiro
Cleide Silva
O mercado interno forte, que ajudou o Brasil a superar a crise de 2008, pode não ter o mesmo peso desta vez. A turbulência que se abateu sobre a economia mundial nos últimos dias pega a indústria automobilística brasileira com pátios lotados de carros - o suficiente para mais de um mês de vendas. Algumas empresas estão reduzindo o ritmo de produção com férias coletivas.
As exportações, que já vinham cambaleantes por causa da valorização do real, serão ainda mais penalizadas e as importações - a mais recente preocupação do setor - devem se intensificar. O pacote de ajuda à indústria, com medidas para melhorar a competitividade nacional, sequer está pronto, mas seus efeitos podem ser anulados pelo agravamento da crise atual.
"O Brasil é visto como um mercado comprador e todo mundo vai querer desovar seus produtos aqui", afirma o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), Paulo Butori. Ele ressalta que o produto brasileiro está, em média, 30% a 35% mais caro que os principais concorrentes. A demanda interna também pode sofrer abalos, até mesmo por causa da esperada queda dos preços das commodities, que pode provocar um efeito dominó na economia brasileira e levar à queda do consumo em geral.
Executivos de montadoras e consultores veem o cenário com preocupação, mas estão menos pessimistas que Butori. "Diferentemente de 2008, quando o crédito secou, desta vez me parece mais uma crise política do que econômica", diz o presidente da General Motors na América do Sul, Jaime Ardila. A seu ver, nenhuma empresa cogita mudar planos de investimentos.
Ardila também teme o aumento na importação de veículos, que pode impactar na produção local. "Todos vão querer exportar seu excedentes para os mercados em crescimento, como o Brasil." Hoje, 22% dos modelos vendidos no Brasil vêm de fora. "Não ficarei surpreso se essa participação chegar a 25%, ou seja: se um em cada quatro carros vendidos for importado", diz.
Butori se diz inseguro em relação ao novo regime automotivo previsto no Plano Brasil Maior, pois seu conteúdo ainda não é conhecido e não há data prevista para a divulgação. O plano estava previsto para fevereiro, foi adiado e, na semana passada, talvez pelo fato de o governo ter vislumbrado o aprofundamento da crise externa, foi lançado, mas sem estar pronto.
Estoques. O mercado interno segue aquecido. Até quinta-feira, as vendas totais no ano somavam 2,167 milhões de veículos, 9,3% a mais que em igual período de 2010. Montadoras e concessionários, porém, iniciaram agosto com 341,9 mil carros nos estoques, mais que os 306,2 mil veículos vendidos e os 307,2 mil produzidos em julho.
Apesar de elevados, a indústria ressalta que, em 2008, os estoques chegaram a 60 dias. Este mês, o setor trabalha com projeção de vendas de 340 mil unidades, em parte por causa do maior número de dias úteis. Se confirmado, será o melhor agosto em vendas na história e o melhor mês do ano.
"O mercado brasileiro é fortemente incentivado pelo crédito, renda e confiança do consumidor, que não foram abalados", afirma Marcelo Cioffi, sócio da PricewaterhouseCoopers. O País, em sua visão, caminha para mais um recorde de vendas, com números próximos a 3,7 milhões de veículos até o fim do ano, previsão compartilhada por Ardila.
Na opinião de Ardila, o Banco Central vai parar de aumentar os juros, pois a queda dos preços das commodities vai reduzir a pressão inflacionária. Se a crise se aprofundar, ele acredita que o BC "tem muito espaço para adotar medidas que evitem contágio maior no País."
No mundo todo, a indústria automobilística deve deixar de vender cerca de 1,7 milhão de automóveis, o equivalente à metade do mercado brasileiro, por causa da crise. A previsão é da consultoria J.D. Power. "Há assuntos importantes ocorrendo no mundo, como a situação dos EUA e da Europa, a desaceleração da China e os terremotos no Japão, que afetam o clima econômico e a venda de veículos novos", justifica Jon Sederstrom, diretor geral da J.D. Power do Brasil.
O mapa mundial de vendas e produção de veículos deve ser pouco alterado, mas o Brasil corre o risco de mudar de posição no ranking. Stephan Keese, responsável pela área automotiva no Brasil da Roland Berger, aposta que o País vai manter-se na quarta colocação entre os maiores mercados. Já na lista dos fabricantes, a tendência é perder o sexto posto e cair para o sétimo lugar, atrás da Índia.