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A princípio pode parecer estranho, mas uma estratégia que está cada vez mais compondo as boas práticas do setor produtivo em todo o mundo é a gestão do envelhecimento ou, como também é chamada, gestão da longevidade. Esta estratégia observa o trabalhador como um ser humano integral e compreende que fatores externos à empresa, como mudanças na vida do empregado, influenciam e podem prejudicar a produtividade.
Da mesma forma, realizar a gestão destes fatores e programar de forma antecipada ocorrências como, por exemplo, a aposentadoria de profissionais pode garantir um melhor ambiente de trabalho, melhor retenção de talentos e maior competitividade para a indústria.
O tema foi debatido durante o II Encontro Internacional da Indústria sobre Longevidade e Produtividade do Trabalhador, realizado pelo Instituto Sesi de Inovação em Longevidade e Produtividade no final de setembro em Curitiba. Na oportunidade, pesquisadoras do Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional, uma instituição de pesquisa governamental vinculada ao Ministério de Assuntos Sociais e Saúde da Finlândia, apresentaram conceitos relacionados ao tema e demonstraram como a gestão da longevidade pode influenciar positivamente as indústrias.
A pesquisadora e psicóloga do instituto Anna Tienhaara afirmou que a preocupação com esse aspecto de gestão vem crescendo, não só na Finlândia, mas em todo o mundo. “É um fator que afeta todos os trabalhadores, tanto do chão de fábrica quanto das áreas administrativas e tem muita influência sobre a produtividade”, indicou.
Para ela, pensar quem são os trabalhadores, em qual momento da carreira eles estão e quais suas habilidades ou dificuldades pode mostrar aos industriais como utilizar melhor seus potenciais e estimulá-los a produzir em sua capacidade máxima.
Anna destacou que há momentos especiais durante o curso de vida que exigem maior atenção. Um deles é a entrada no mercado de trabalho, que demanda acolhimento, treinamento, identificação de habilidades e transferência da política da empresa e de fatores motivadores para o engajamento do novo trabalhador. Também é um período em que esse trabalhador busca se desenvolver e qualificar na profissão, atividades que podem ser apoiadas pela indústria.
Um segundo momento destacado pela pesquisadora é o que exige do trabalhador tempo para os cuidados com a família, sejam com filhos ou parentes idosos. “Estas questões afetam a produtividade e as empresas precisam se tornar aptas a ajudar o empregado a conciliar trabalho e família, para garantir maior produtividade e um projeto de carreira”, disse. Anna explicou que, muitas vezes, ajustes no horário de trabalho, atividades em home office e outras soluções podem ser encontradas para que seja possível reter esse profissional que já recebeu investimentos da empresa e para que ele possa ser amplamente produtivo no horário dedicado ao trabalho.
Outro ponto fundamental, segundo a pesquisadora, é aquele no qual o trabalhador desempenha há vários anos a mesma função ou que está mesma área e deseja buscar um novo desafio, uma nova motivação. “É importante ajudar esse profissional a buscar esse novo desafio, talvez estimular outros estudos e usar a experiência que ele já possui a favor da empresa em áreas nas quais possa contribuir com motivação renovada”, salientou.
Por fim, a aposentadoria de um profissional também é um momento especial, que exige planejamento e atenção por partes dos gestores. Não só o conhecimento que esse trabalhador acumulou poderá deixar a indústria, mas também seus contatos e suas relações profissionais. “É importante ter um plano e estabelecer mecanismos para manter esse conhecimento, experiência e network dentro da empresa. Então, essa gestão precisa ocorrer desde o primeiro dia de trabalho até o último para que a empresa possa usufruir do máximo potencial de seus trabalhadores”, avaliou Anna.
Fatores
Além dos aspectos externos ao mundo do trabalho, os pesquisadores do instituto finlandês apontaram ainda que uma gestão eficiente irá avaliar fatores intrínsecos que envolvem a capacidade de trabalho. São eles: condição física; conhecimento, educação e experiência do profissional; motivação e atitudes; e comunidade de trabalho e liderança.
“Estes quatro aspectos estão sempre relacionados e a mudança em um deles afeta os outros. Portanto, há alterações que podem ser realizadas em um deles para auxiliar no equilíbrio do outro, mantendo a produtividade e capacidade de trabalho”, explicou a pesquisadora Marjo Wallin.
A decisão sobre quais seriam esses pontos em desequilíbrio e os mecanismos é feita com base em métodos e pesquisas realizadas na empresa, que pode apresentar informações aos gestores sobre aspectos que estão reduzindo a capacidade de trabalho. A partir destas informações é possível encontrar soluções e ampliar a produtividade e competitividade.
A pesquisadora alertou as indústrias brasileiras quanto às mudanças em curso na nossa pirâmide etária, uma vez que o envelhecimento da população certamente irá demandar novas soluções e mudanças no setor produtivo. Ela também comentou que boas práticas de gestão podem ser realizadas por empresas de vários tamanhos e, muitas vezes, sem exigir grandes investimentos financeiros.
De acordo com Marjo, a gestão do envelhecimento começa pela missão da empresa e usa a criatividade para gerar soluções. Ela também comentou que as mudanças não precisam ser realizadas todas de uma vez. É possível tomar pequenas atitudes para melhorar a produtividade e garantir a competitividade. Para a especialista, o importante é iniciar esse processo. “Uma coisa é certa: as indústrias mais proativas serão as que terão a maior vantagem competitiva”, concluiu.
Diante desta realidade, o Instituto Sesi de Inovação em Longevidade e Produtividade também age de forma proativa e está capacitando seus profissionais e adaptando a metodologia para à realidade brasileira. Profissionais da instituição realizaram um curso intensivo sobre o tema com as pesquisadoras e também estarão aptos a auxiliar as indústrias brasileiras na busca de soluções para estes desafios.