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O ano de 2016 foi de muitas dificuldades para o setor industrial paranaense. As crises política e econômica, que se arrastavam desde 2015, desestimularam investimentos e demandas, impactando seriamente as indústrias em todo o País. Ainda há muita expectativa sobre o que pode acontecer em 2017, na avaliação do presidente da Fiep, Edson Campagnolo.
Confira a entrevista para o Boletim da Indústria:
Boletim da Indústria - Como o industrial termina o ano de 2016? Qual a sua avaliação sobre o desempenho e as dificuldades enfrentadas pelo setor produtivo neste ano?
Edson Campagolo - Infelizmente, o industrial termina 2016 da mesma maneira como iniciou o ano: preocupado. Foi um ano muito difícil para todos os segmentos da economia, mas especialmente para a indústria. Por falta de uma política industrial clara em nosso país, a indústria brasileira já vinha sofrendo com perda de competitividade nos últimos anos, um quadro que se agravou ainda mais devido à profunda recessão a que chegamos em 2016. Isso afetou o desempenho da maioria das empresas.
A indústria paranaense apresentava, na média geral, uma queda de 8,2% em suas vendas entre janeiro e outubro, segundo o último levantamento conjuntural da Fiep. E os indicadores de desemprego seguiram aumentando. O panorama melhorou um pouco com a troca de governo, que em um primeiro momento trouxe mais confiança a consumidores e empresários. Mas chegamos ao fim do ano ainda com turbulências políticas e aguardando medidas efetivas para recolocar o Brasil no rumo do crescimento. Assim, o industrial segue preocupado e apreensivo.
A crise se tornou uma oportunidade para pensar no negócio e inovar? Como o senhor vê este movimento das indústrias paranaenses em 2016?
É impossível afirmar que uma crise tem algum lado bom, mas pelo menos ela força o empreendedor a sair de sua zona de conforto. Com vendas em queda e precisando equilibrar suas contas, praticamente todas as empresas fizeram ajustes em suas estruturas neste momento de dificuldade econômica do país. As indústrias ficaram mais atentas a seus processos produtivos, identificando eventuais melhorias que resultassem em aumento de eficiência e eliminação de desperdícios, o que se reverte em redução de custos.
Prova dessa preocupação foi o grande número de inscrições registradas no Paraná no programa Brasil Mais Produtivo, criado pelo ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, com apoio técnico do Senai. Com previsão de realizar 200 consultorias para melhorar em pelo menos 20% a produtividade de empresas de alguns setores, superamos esse número logo no lançamento do projeto - o que fez inclusive com que o ministério já anunciasse a intenção de ampliar o programa em 2017. Também vimos muitas empresas preocupadas em lançar novos produtos ou buscando novos mercados. Sem dúvida alguma, muitas das lições aprendidas pelas indústrias nesse período de crise servirão para impulsionar as empresas quando houver a retomada do crescimento.
O ano também foi de muitas mudanças políticas e de envolvimento na Fiep com a campanha Vote Bem. Na sua avaliação, as diferentes esferas de governo estão adotando as medidas necessárias para a retomada do crescimento da economia? O que espera de 2017 neste sentido?
Ainda aguardamos medidas concretas que resultem na retomada da atividade econômica. O governo do presidente Michel Temer deu várias sinalizações importantes para o setor produtivo, afirmando estar disposto a mexer em questões fundamentais para garantir crescimento em longo prazo. Até agora, praticamente apenas a Proposta de Emenda à Constituição que estabelece um teto para os gastos públicos está bem avançada. Essa, sem dúvida alguma, é uma medida essencial para colocar as finanças públicas em ordem e para recuperar a confiança dos investidores. Percebo que essa proposta foi recebida muito bem no exterior, mostrando que o Brasil está assumindo um compromisso com o equilíbrio das contas públicas.
Em seguida, o governo sinaliza que tratará da questão da Previdência, outro fator fundamental nesse esforço para garantir equilíbrio fiscal no futuro. O governo também mostra estar disposto a buscar uma reinserção do país no comércio internacional e pretende promover um amplo programa de concessões em infraestrutura, com investimentos que podem impulsionar a economia. Mas é preciso avançar ainda mais. O Brasil precisa discutir com seriedade outras reformas que possibilitem a criação de um ambiente mais favorável aos negócios, com mudanças na legislação trabalhista, simplificação do sistema tributário e redução da burocracia, entre tantos outros entraves que dificultam a vida de quem quer empreender no país. O avanço de pelo menos parte dessas questões dependerá do cenário político do país, que mesmo após a troca de governo ainda sofre com certa instabilidade, especialmente diante das denúncias de corrupção que parecem não ter fim.
Qual o recado que o senhor deixa sobre como os industriais podem enfrentar o ano que vem?
Apesar de ainda termos um panorama desafiador pela frente, não podemos desanimar. Precisamos manter o otimismo e fazer a lição de casa em nossas empresas, buscando sempre mais eficiência e ficando atendo a possíveis oportunidades. Mas precisamos, mais do que nunca, estarmos mais atentos às discussões políticas em nosso país. Está claro que a sociedade quer mudanças na forma como o Brasil vem sendo conduzido. Isso só vai acontecer se nos posicionarmos claramente, se participarmos mais da vida política, cobrando de nossos governantes e parlamentares medidas condizentes com os anseios da população. Nós, enquanto empresários, temos uma força muito grande se atuarmos unidos, nos sindicatos, associações e federações. É hora de transformar o Brasil, por isso precisamos cada vez mais fortalecer essa união.