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Desde a privatização, investimento cresceu 1.400%. Governo acreditava que oposição seria mais amena
Danielle Nogueira
O setor siderúrgico foi escolhido para ser o primeiro a ter o selo da privatização basicamente por duas razões. Primeiro, porque acreditava-se que seria mais palatável para a população. Seria mais fácil mexer na estrutura produtiva do aço do que com serviços públicos, como energia e telefonia, tão presentes no cotidiano dos brasileiros. Além disso, as empresas reunidas sob o guarda-chuva da antiga Siderbrás dava sinais claros de serem insustentáveis.
- Como o aço está no início da cadeia produtiva, o governo usava as estatais para comprimir preços e, assim, não apenas conter o avanço da inflação como também alavancar a indústria metal-mecânica - diz Marco Polo de Mello Lopes, presidente-executivo do Instituto Aço Brasil (IABr).
Os números mostram que a decisão de privatizar o setor surtiu efeito sobre a rentabilidade das empresas. Entre 1991 - quando a Usiminas foi vendida, inaugurando o Programa Nacional de Desestatização - a 2010, o faturamento do setor cresceu em 300%, para US$36,3 bilhões. E o investimento saltou 1.400% no período, para US$4,5 bilhões. O ritmo das contratações, porém, foi bem mais lento: o número de empregados diretos cresceu apenas 13,2% no período para 142 mil, fruto da maior mecanização dos processos e da concentração do setor.
Vale entrou na Usiminas para recuperar dívidas
Diferentemente da maior parte das siderúrgicas, a Usiminas era lucrativa em 1991, o que explica o fato de ela ter liderado a lista das privatizações. Afinal, era preciso atrair investidores. Ironicamente, um dos integrantes do consórcio vencedor foi a Vale, quando ainda era estatal.
- As siderúrgicas tinham uma dívida de mais de US$500 milhões com a Vale, de quem compravam minério de ferro. A mineradora viu na privatização sua chance de se tornar sócia dessas empresas e recuperar esse dinheiro. O governo permitiu desde que ela ficasse fora do grupo de controle - revela Wilson Brumer, que presidia a Vale no ano em que a Usiminas foi leiloada e hoje está à frente da siderúrgica mineira.