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Fabricantes do país perdem demanda para o aço indireto

12 de setembro de 2011

Entrada do produto via máquinas, carros e autopeças já rouba mais de 15% das vendas internas

Ivo Ribeiro

A avalanche de importações de automóveis, autopeças, máquinas e equipamentos, bens eletrodomésticos e outros produtos com elevado conteúdo em aço é vista hoje como o principal vilão do mercado siderúrgico nacional. Estima-se que a entrada de aço indireto no país via material acabado já roube cerca de 15% a 20% de um mercado que potencialmente seria das usinas locais.

É um volume significativo - tanto de aço que se deixa de exportar indiretamente quanto de aço que poderia ser vendido para fabricação de bens que estão sendo importados -, avaliam executivos e empresários do setor. Estima-se volume de pelo menos 5 milhões de toneladas de aço bruto ao ano. Ou seja, o equivalente ao tamanho da usina de Ipatinga, da Usiminas, ou da de Volta Redonda, da CSN.

Devido a essa situação, que vem se agravando desde 2005 e acelerada a partir de 2009, as siderúrgicas brasileiras decidiram rever sua meta de produção para este ano no começo do mês. O volume foi cortado em mais de 3 milhões de toneladas, ante a projeção fixada no início do ano de atingir 39,4 milhões de toneladas. A nova meta de produção é de 36,3 milhões de toneladas.

Disputa com importado é feita com uma grande perda de margem para as siderúrgicas do país, diz Brumer, da Usiminas

"Esse é o problema crucial do setor hoje, diante de um cenário de crescente desindustrialização do país", afirma Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil (IABr). A entidade representa as fabricantes locais, das quais Usiminas, Gerdau, ArcelorMittal, CSN e Votorantim são responsáveis por mais de 95% do volume de aço bruto produzido.

Conforme dados do IABr, o Brasil vai fechar com déficit de quase 2 milhões de toneladas na balança comercial de aço indireto prevista para o ano. "Em 2005, o país tinha superávit desse mesmo volume", informa Lopes. Ou seja, em seis anos o setor está perdendo um mercado próximo de 5 milhões de toneladas de aço bruto para usinas siderúrgicas estrangeiras, em especial da China. É de lá, maior país siderúrgico do mundo, que tem vindo a maioria de bens acabados em aço da cadeia metalmecânica.

O câmbio valorizado é o principal fator que favorece a entrada de produtos finais em aço, bem como para aço direto dos tipos planos (bobinas e chapas), longos, especiais, inox e na forma de tubos, além de outros itens da cadeia produtiva das usinas.

As importações diretas de aço, que em 2010 chegaram à marca de 5,9 milhões de toneladas, neste ano arrefeceram e devem ficar em torno da metade. "Mas isso vem sendo feito a um custo elevado para as empresas, pois há uma perda grande de margem de ganhos. Basta olhar os balanços das empresas", afirma Wilson Brumer, presidente da Usiminas.

Nesse embate, mencionado pelo executivo, as vendas das usinas deverão crescer quase 9% no mercado interno em 2011, alcançando 22,55 milhões de toneladas. No entanto, o volume fica bem abaixo das 24,57 milhões de toneladas projetadas no início do ano. Se tivesse se cumprido, isso levaria a uma alta de quase 19% nas entregas das siderúrgicas este ano no mercado doméstico.

Todo o cenário mudou desde meados do primeiro semestre para cá. "Continuamos enfretando os mesmos problemas: cambio, guerra fiscal entre os Estados, carga tributária elevada, falta de política ágil de defesa comercial e excesso de oferta de aço no mundo", comenta Lopes, do IABr.

O consumo aparente de aço (soma de venda interna mais importações) fechará com retração de 1%, em 25,8 milhões de toneladas, afetado principalmente pelo arrefecimento nos aços planos. No início do ano, a expectativa era de alta de 6,4%, com total de 27,8 milhões de toneladas.

O setor justificou a revisão das projeções para produção e consumo interno principalmente pela "expectativa de menor crescimento de mercado interno devido ao desaquecimento da economia, à persistência dos estoques elevados e à acirrada competição das importações, particularmente em setores consumidores intensivos em aço".

O IABr estima que as importações desses tipos de bens com elevado conteúdo em aço durante o ano vão somar 4,7 milhões de toneladas de aço indireto. O volume é concentrado em máquinas e equipamentos e em automóveis, veículos leves e utilitários e autopeças. O déficit projetado é de 1,9 milhão de toneladas, quase 30% maior que o do ano passado.

A projeção do Inda, entidade dos distribuidores de aços planos do país, vai além. Prevê 5,3 milhões de toneladas de aço indireto desembarcando no país este ano, resultando em um déficit superior a 2,3 milhões de toneladas. De janeiro a julho, conforme seus dados, o saldo negativo era de 1,1 milhão de toneladas, com aumento de 58% sobre o saldo de igual período de 2010. Enquanto os embarques ao exterior evoluíram 11% até julho, as importações cresceram 26%.

O segmento de máquinas e equipamentos ficou com 45% desse saldo, seguido por carros, veículos comerciais e autopeças, com 32%. A indústria automotiva, segundo projeções da Anfavea, prevê importar entre 800 mil e 900 mil veículos neste ano. Cerca de 70% desse número deve ser feito pelas próprias montadoras instaladas no país, beneficiadas pelo câmbio e por acordos bilaterais com outros países, como México e Argentina.

A rede de distribuição, que é afetada pela entrada de aço indireto, explica Carlos Loureiro, presidente do Inda, vai se dedicar nesses quatro meses a fazer gestão dos estoques, que estão elevados, no nível de 1,2 milhão de toneladas. O setor terá de cortar 300 mil toneladas até o fim do ano.

Brumer observa que, se de um lado há a forte entrada de produtos acabados, de outro o Brasil não consegue ampliar as exportações, pelas mesmas razões de conjuntura do país. Em aço direto, perde competitividade com o real valorizado e enfrenta a acirrada concorrência externa devido ao excesso de aço no mercado internacional. devido ao custo Brasil mais elevado e o câmbio, também não consegue ser mais efetivo na exportação de carros, autopeças, equipamentos e outros bens que demandariam grande quantidade de aço na sua fabricação.

As exportações de aço, como chapas e bobinas laminadas, tarugos e placas do país foram revisadas para 9,2 milhões de toneladas neste ano, já tirando as cerca de 3 milhões de toneladas de placas da CSA ThyssenKrupp que vão diretamente para unidades do grupo nos EUA e Alemanha. O número anterior, na mesma base, era de 9,8 milhões. Ou seja, houve uma perda de 600 mil toneladas.

O aço indireto exportado deverá crescer entre 100 mil e 300 mil toneladas sobre o volume do ano passado. Já as importações têm previsão de subir de 480 mil a 1,1 milhão de toneladas de um ano para o outro, conforme as projeções do IABr e do Inda. Os dois casos significam retração de mercado apenas na balança comercial direta e indireta de 1 milhão a 1,4 milhão de toneladas.

Apesar de arrefecida, a importação direta de aço cresceu a partir de julho. No ano, até aquele mês, o índice de penetração médio no mercado brasileiro era de 14,1%. Os aços planos sofreram o maior ataque do produto estrangeiros, com 16,1%. Já os aços longos, com 11,5%, são mais protegidos pelas suas características de produção próxima ao mercado.

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