Chimarrão amargo para o consumidor, nem tanto para o produtor
Alta no preço da erva-mate surpreendeu os consumidores, mas São Mateus do Sul, entre os maiores produtores do Paraná, comemora
valorização do produto
O bom e velho chimarrão, bebida insubstituível para boa parte dos são-mateuenses, está ficando
mais amargo para seus consumidores. Nos últimos meses, o preço da erva-mate sofreu um aumento que chamou a atenção
nas prateleiras dos supermercados. Para os produtores da erva verde, no entanto, o gosto atual é muito doce: entre
uma das principais cidades produtoras do Paraná, São Mateus do Sul está, de certa forma, contente com
a valorização do produto.
Nesta semana, o ACONTECEU consultou o preço da erva-mate nos supermercados da cidade, chegando à média
de R$ 10 o quilo. Depois de passar um longo período de muita oferta, que fez o preço despencar para R$ 8,36
a arroba da erva-mate no ano passado, ela recuperou sua rentabilidade em 2013, superando, no segundo semestre deste ano, R$
15 a arroba, segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento
(Seab).
O aumento surpreendeu os produtores que industrializam erva-mate. Em São Mateus do Sul, as empresas sentiram
a mudança. Leandro Gheno, empresário que industrializa erva-mate e adquire matéria-prima dos produtores
da cidade e da região, diz que sua empresa, como todas as outras ervateiras, está tentando se adaptar a essa
nova realidade.
“Os preços da matéria-prima subiram muito em um curto espaço de tempo, o que dificulta
uma política comercial da empresa”, aponta. Considerando que o aumento mais impactante seja nos preços
a nível de produtor, ele estima que a categoria aproveite o período para investir no trabalho. “Espero
que parte desse valor seja reinvestido na cultura, no manejo e na aplicação de novas tecnologias de produção”.
Na primeira fase do processo, onde é plantada a folha que se transformará no nosso familiar chimarrão,
o sorriso é largo. Jorge Gaensly, que há 17 anos produz erva-mate na propriedade da família, na Colônia
Cachoeira, diz não se lembrar de outro ano em que a produção foi tão lucrativa. “É
o preço que eu nunca esperava que um dia fosse atingir”, conta o pequeno produtor, que investe na produção
e considera alto o investimento gasto desde as mudas até a poda e a colheita. “Isso nos anima, pois conseguimos
pagar os custos e ver os lucros. Aí sim você vê que seu trabalho está dando retorno”. Produtor
insistente, que se manteve na cultura mesmo quando muita gente abandonava a erva-mate e migrava para outros produtos, Jorge
estima um futuro ainda promissor. “Até onde a gente sabe, não está tendo tanto produtor para a
demanda, e essa não é uma cultura que dá resultados a curto prazo”.
Em 2012, a produção de erva-mate no Paraná foi de 337,4 mil toneladas, um aumento de 9% em relação
ao ano anterior. Os ervais estão presentes em 151 cidades do Paraná e algumas cidades do centro-sul movimentam
a maior parte da produção no Estado, incluindo São Mateus do Sul. Juntos, São Mateus, Cruz Machado,
Bituruna, Paula Freitas, General Carneiro, Inácio Martins e Prudentópolis responderam por 60% da renda gerada
pela erva-mate no Estado em 2012. Segundo dados da Secretaria Municipal de Agricultura, a produção no município
chegou a 45 mil toneladas da folha em 2012, girando o montante de mais de R$ 23 milhões. No mesmo ano, a produção
de mudas foi de 800 mil unidades, girando o valor de R$ 520 mil. Ainda não há valores apurados da produção
em 2013, mas, de acordo com a Secretaria, o valor do quilo triplicou.
Por que subiu?
O produtor da Colônia Cachoeira tem razão em seu julgamento. Segundo o presidente do Sindimate, Ignácio
Carrau Supparo, o aumento no preço da erva-mate se deu a uma série de fatores. Primeiro, o fato de que a Argentina,
um dos maiores exportadores, tabelou os preços no país por falta de matéria-prima e baixo valor. “Isso
fez com que as empresas brasileiras que importavam do país vizinho começassem a se abastecer do mercado local,
e que empresas consumidoras do mundo começassem a adquirir o produto no Brasil”, explica. E o cenário
já estava caminhando para o aumento dos preços devido à baixa na oferta, como observou Jorge, quando
outras culturas passaram a ser mais valorizadas pelo maior rendimento por hectare e por falta de investimento e assessoria
técnica nos plantios da erva verde. Ou seja, enquanto a área plantada reduziu, as exportações
cresceram.
A perspectiva é que a tendência de preços continue em alta nos próximos meses, considerando
que o bom preço não interfere a curto prazo no aumento da produção. “Novos ervais demoram
de 5 a 6 anos para sua formação e início da produção”, lembra Ignácio. Mas
o que vai direcionar é a oferta e demanda do mercado. “Para o produtor, o preço atual é excelente,
e com certeza para o agricultor será melhor se a alta mantiver por um longo período”, elenca. “Porém,
o consumidor final está sufocado com os preços atuais do chimarrão na prateleira dos supermercados, já
que a erva-mate está custando mais até do que o café, e não podemos deixar de olhar o consumidor
final, que vem demonstrando uma queda de consumo na cuia de chimarrão”, considera.
Para São Mateus do Sul, como um dos principais produtores de erva-mate, o setor enxerga um cenário
próspero para os próximos anos. No entanto, para o Paraná como um todo, é um pouco diferente.
Segundo o Sindimate, outros estados estão adquirindo a folha verde do Paraná para industrializar, o que fará
com que o Estado perca a sua riqueza, gerando valor agregado ao produto paranaense em outras regiões.
Publicado em Jornal Aconteceu
Quinta, 14 de novembro de 2013.