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Certificação ainda é pouco valorizada

06 de junho de 2011

 

Mercado

Uso de selos no Brasil deve aumentar quando multinacionais usarem padrões iguais no mundo

Sérgio Adeodato

Lançar produtos com atestado de boas práticas ambientais e sociais, desde a matéria-prima até a fabricação e venda ao consumidor final, é uma tendência crescente como estratégia de negócio no exterior. Agora, o foco das companhias transnacionais se volta para o mercado brasileiro, onde mudanças do padrão de consumo nos últimos anos podem acelerar as chamadas "com pras responsáveis". No Brasil, 40% do óleo de palma e 100% da soja usadas pela Unilever são compradas de fornecedores signatários de acordos para a produção sem desmatamento.

A empresa, que tem como meta global atingir 100% dos produtos com origem sustentável até 2020, pretende lançar no mercado nacional, nos próximos nove anos, o chá com selo socioambiental, já comercializado em outras partes do mundo. "Batemos internamente a meta mundial fixada para 2015 de usar nas embalagens 75% do papel e papelão certificados", revela Juliana Nunes, diretora de assuntos corporativos.

O papel é o produto mais popular com comprovação de origem ambiental no Brasil, sendo empregado por centenas de companhias de diferentes ramos.

A Tetra Pak utiliza matéria prima com selo socioambiental em todas as caixas de suco e leite produzidas no país, superando os índices alcançados pela empresa no exterior. O avanço tornou-se viável a partir de pressões externas para a certificação das florestas de eucalipto para fabricar celulose e, depois, para as fábricas de papel. Dos 5,1 milhões de hectares de florestas do setor, incluindo as plantadas e as naturais, 2 milhões são certificados.

"Esperamos que o consumidor reconheça cada vez mais esse atributo", afirma Elizabeth de Carvalhaes, presidente da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa).

"Por meio das certificações, há garantia de práticas sustentáveis, com menor impacto na natureza e respeito aos direitos dos trabalhadores", explica.

Apesar do destaque do papel, quando o assunto é certificação, o Brasil está atrasado para a maioria dos produtos. Custos, preços e demanda incipiente são as explicações.

"As empresas com metas globais de meio ambiente restringem o carimbo socioambiental às regiões desenvolvidas, sobretudo a Europa", afirma Mauricio Voivodic, secretário executivo do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), instituição que trabalha pela expansão dos selos verdes no Brasil. Nos países ricos, diz ele, "há controle mais rígido, forte pressão dos compradores e maior projeção para a imagem corporativa no cenário mundial".

Voivodic cita o caso do café certificado pelo Rainforest Alliance Certified, vendido no exterior em redes de fastfood que não oferecem o produto em suas lojas no Brasil. Como paradoxo, 10% da produção do cerrado, maior região cafeeira do país, têm o selo e o produto é destina quase todo para exportação. "A virada do mercado interno para a certificação, ocorrerá quando as empresas internacionais adotarem aqui os mesmos padrões usados lá for a", prevê Voivodic. A medida, segundo ele, "teria expressivo poder de puxar concorrentes e fornecedores para práticas sustentáveis, com vantagens ambientais, sociais e econômicas".

"Na Europa, onde o processo de industrialização é mais antigo e é maior a consciência sobre o uso de recursos naturais e seus impactos, existe maior consciência sobre a urgência do problema ambiental", explica Fabíola Zerbini, gerente do Forest Stewardship Council (FSC) no Brasil. A instituição, maior certificadora mundial de produtos florestais, planeja iniciar neste ano uma campanha para consumo responsável de madeira no mercado brasileiro, sobretudo na construção civil. "Um dos mais graves entraves é a competição desigual com a madeira ilegal, que não paga impostos e devasta as florestas", alerta Fabíola.

De acordo com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), mais de um terço da produção madeireira da região é ilegal e grande parte se destina ao mercado da construção civil, principalmente de São Paulo Em função dos esquemas irregulares na licença e documentação, suspeita-se que a maior parcela "legal" seja predatória - isto é, extraída sem os mínimos critérios ambientais. "Certeza sobre a origem sustentável só a partir da certificação, com normas e auditorias que atestam as práticas de impacto reduzido na floresta e o respeito às condições dignas de trabalho", ressalta Marco Lentini, diretor do Instituto Floresta Tropical, no Pará.

"Além disso, o produto certificado é quase todo exportado, sendo difícil encontrar no merc a d o", adverte Rafik Saab Filho, secretário executivo do Sindicato do Comércio Atacadista de Madeira de São Paulo. No entanto, em sua avaliação, a maior dificuldade para a madeira certificada atrair o consumidor é o preço, superior ao do produto convencional. "As distorções estão nos impostos", revela Rafik.

Enquanto o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) pago por materiais de construção concorrentes, como cimento, plástico e aço, é de 12%, o percentual para madeira, seja comum ou certificada, é de 18%. Para o empresário, "o setor se movimenta para a equiparação dos impostos, o que incentivaria por tabela o uso maior dos produto certificados".

"Além disso, o consumidor precisa entender a conexão entre o uso da madeira ilegal nas cidades e as recentes mortes de lideranças sociais na Amazônia", adverte Malu Vilella, coordenadora da Rede Amigos da Amazônia, mantida pela Fundação Getúlio Vargas. De acordo com pesquisa de opinião do Ibope e Confederação Nacional da Indústria, divulgada no ano passado, 51% dos entrevistados aceitariam pagar mais por produtos ecologicamente corretos, mas a maioria escolhe o mais barato na hora das compras.

 

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