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Enquanto o Brasil debate como lidar com sua mata nativa, algumas nações mostram como conciliar o progresso econômico com a preservação
Margarida Telles
O futuro das florestas brasileiras está em jogo no Congresso Nacional. Os deputados federais debatem uma das mais ousadas mudanças no conjunto de leis que regulam o uso de nossas matas, o chamado Código Florestal. A legislação atual, criada em 1965, recebeu 16 mil emendas ou medidas provisórias, por vezes confusas e contraditórias. Elas complicam a produção agrícola e também não garantem proteção ideal aos recursos naturais. Na semana passada, a proposta de reforma no código, apresentada pelo relator Aldo Rebelo (PCdoB-SP) passou por negociações, mas o texto final não agradou nem aos ruralistas nem aos ambientalistas. A votação foi adiada, e a discussão em torno do assunto só esquentou.
De um lado, os produtores rurais querem mais flexibilidade nas leis para ampliar a produção e consolidar áreas já desmatadas. Por outro, pesquisadores e conservacionistas defendem medidas de proteção florestal para manter a biodiversidade, evitar a erosão do solo, preservar mananciais e alimentar o ciclo de chuvas. Por trás do debate, o que está em jogo é o modo como o Brasil vê a vocação de suas florestas. Mas um exame da estratégia adotada por alguns países ricos mostra como eles conseguiram conciliar o desenvolvimento humano e econômico com a preservação. Em alguns casos, como no Japão, o progresso ocorreu por causa da conservação. "Em geral, nos países mais desenvolvidos, onde se tem mais educação, cumprem-se mais as normas ambientais", diz Maria Tereza Pádua, da União Internacional para Conservação da Natureza. O que esses países ensinam.
CANADÁ
O dinheiro dá em árvores
O Canadá concentra 10% da área florestal
do planeta. Quase metade de seu território é coberta por florestas. Em parte, isso é explicado pela população
de apenas 34 milhões de pessoas no segundo maior território do mundo. Mas não é só. Os
canadenses aprenderam a tirar dinheiro das árvores. A extração de madeira, que não pode ultrapassar
1% da área florestal do país, rende US$ 23 bilhões por ano. Por lei, toda árvore cortada deve
ser substituída por outra igual. No ano passado, as empresas madeireiras assinaram com ONGs ambientalistas o maior
acordo de proteção ambiental do mundo, que garantiu a preservação de 291.000 quilômetros
quadrados, uma área maior do que o Estado de São Paulo.
ESTADOS UNIDOS
As árvores
somos nós
O país foi um dos primeiros a perceber que as florestas eram um tesouro nacional.
O presidente Theodore Roosevelt, que governou de 1901 a 1909, criou 150 áreas de conservação para florestas,
51 reservas federais para pássaros e cinco parques nacionais. Isso numa época em que outros países nem
pensavam em preservação. Os Estados Unidos desmataram apenas 23% de suas florestas nativas até o início
do século XX. Desde então, a vegetação vem sendo conservada. O Brasil, em comparação,
devastou 92% da Mata Atlântica. Os americanos têm uma ligação cultural com suas florestas. Estudantes
visitam áreas naturais para entender o ciclo da vida. Cidades médias cultivam cinturões verdes para manutenção
de mananciais. E os parques nacionais estão entre as principais atrações turísticas e áreas
de lazer. Eles recebem cerca de 600 milhões de visitas por ano, o dobro da população do país.
NOVA ZELÂNDIA
Todos saem ganhando
A
Nova Zelândia mostra como grupos com interesses distintos sobre o uso da terra podem chegar a um acordo. "O país
é uma ilha com plantações, criações de carneiro, florestas nativas, plantio florestal e
população indígena. Todos competindo por espaço", afirma Tasso Azevedo, consultor do Ministério
do Meio Ambiente. Em 1991, após longas negociações, os setores concordaram com um código florestal.
Ele estabeleceu cotas para pecuária e agricultura. Também prevê que a produção de madeira
só vem de florestas plantadas. E que é preciso repor as árvores cortadas. Uma associação
sem fins lucrativos, financiada pelas madeireiras, fiscaliza sua conduta ambiental.
JAPÃO
As montanhas são
sagradas
Há 300 anos, o país sofria desmatamento acelerado. As florestas nativas minguavam
graças à extração da madeira para construção, navegação e aquecimento.
Em 1670, a população do país atingia os 30 milhões, e não só a madeira das florestas
nativas chegava ao fim, como o país começava a sofrer com a erosão, as enchentes e os desabamentos. Até
que o imperador Higashiyama resolveu adotar medidas drásticas de preservação. O governo passou a pesquisar
e ensinar métodos de reflorestamento. Os habitantes de vilas rurais adotaram práticas como a manutenção
de mata entre as plantações e as florestas. Uma das regras de ouro do país é conservar a cobertura
vegetal nas montanhas, para evitar erosão, e ocupar intensamente o fundo dos vales. Hoje, apesar de abrigar 128 milhões
de pessoas, o Japão tem 67% de sua área coberta por florestas.