Sindicato das Indústrias de Artefatos de Couro do Estado do Paraná

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Sapato dá chute na crise

15 de setembro de 2011

Exportações crescem 16% sobre o ano passado

Por Cláudia Marques

Antes de exibir este ano um dos mais vistosos resultados do setor exportador, os donos de indústrias de calçados descreveram uma trajetória de altos e baixos. Começando por baixo. "Qual é o preço dessa droga?", ouviu de um distribuidor americano, no início dos anos 60, o empresário Wilson Mello, dono da Samello e primeiro fabricante brasileiro de sapatos a desbravar o mercado dos Estados Unidos. Ao reagir à grosseria, Mello conquistou o primeiro cliente. "Se você ficou ofendido, é porque seu sapato deve ser bom." Quarenta anos depois, a história contada por empresários de Franca, no interior de São Paulo, é lembrada com bom humor. Eles, afinal, deram um chute na crise. Em todo o País, de janeiro a julho foram embarcados para o exterior 95,8 milhões de pares, 16% a mais em relação a 1999, quando, no período, foram exportados 82,7 milhões. Em Franca, o crescimento foi de 44% no primeiro semestre deste ano. "O dólar estacionou num patamar suportável para o exportador e o mercado externo voltou a acreditar no Brasil", diz o empresário Carlos Brigagão, da Sândalo, que este ano está produzindo 7 mil pares por dia, 15% a mais que em 1999 e exportando 30% da produção.

A desvalorização do real não é o único motivo para a boa fase do setor. Os empresários investiram. Tecnologia, qualidade e design foram as prioridades. Também procuraram outras regiões do País, como o Nordeste, atrás de isenção fiscal de até 75% do ICMS por dez anos. "A rota da exportação se ampliou", afirma Nestor de Paula, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). Nesta rota alternativa, o empresário Tibúrcio Grings, da Piccadilly, com sede no Vale dos Sinos, Rio Grande do Sul, inaugurou no ano passado uma fábrica em Juazeiro do Norte, Ceará. "Nossa produção aumentou 20% sobre a do ano passado, que foi de 8 milhões de pares", comemora Grings. A empresa também abriu um escritório em Miami para aumentar as exportações para os EUA. A onda de otimismo percorre o País. Em Birigüi, interior de São Paulo, o empresário Carlos Mestriner, do grupo Klin, colhe hoje os frutos depois de anos de crise. "Em 1987, meu pai teve de vender uma propriedade para colocar dinheiro na Klin", lembra. Hoje, o grupo produz 40 mil pares de sapatos por dia, 25% para exportação.

Fortalecidos, os empresários se voltam contra a exportação do couro salgado, o wet blue, cuja falta eleva o preço do couro e encarece o sapato nacional. "Não faz sentido exportar wet blue, de pouco valor agregado, e importar couro acabado", diz Mestriner. "Com um taxa, as exportações triplicariam." Proposta de taxação de 9% passou pelo Ministério do Planejamento e, agora, depende da Fazenda.

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