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Pesquisa da CNI indica que metade das empresas reduziu as exportações em 2010 por causa da queda do dólar ante o real
ROSANA HESSEL
Um dia antes de o governo anunciar a nova política industrial, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou uma pesquisa revelando que metade das exportadoras nacionais perdeu participação no exterior em 2010.
Com o dólar barato, a concorrência com importados é cada vez mais acirrada no mercado doméstico e, lá fora, o produto nacional fica mais caro.
O levantamento, feito junto a 1.569 empresas, revelou que 48% reduziram sua participação no mercado externo, sendo que praticamente um terço parou de exportar. Entre as companhias de pequeno porte, a parcela das que perderam mercado chegou a 55%. Os setores mais afetados foram os de vestuário, couro, metalurgia básica, móveis e farmacêutico. Apesar de a balança comercial continuar ostentando superavit, graças às exportações de commodities, cujos preços continuam em alta, o setor de produtos manufaturados, que já teve saldo negativo de R$ 71 bilhões em 2010, poderá apresentar deficit de R$ 100 bilhões neste ano, segundo a CNI.
"Além da valorização do real, os elevados custos de capital, de logística e de qualificação de mão de obra se destacam entre as dificuldades dos exportadores", afirmou o gerente-executivo da Unidade de Política Econômica da entidade, Flávio Castelo Branco.
Ele demonstrou otimismo com a nova política industrial. "Temos expectativa positiva. Os esforços das empresas são voltados para melhorar a capacidade de inovação e, para isso, são necessárias políticas públicas para que elas façam mais investimentos", completou.
A secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, disse que os dados da CNI não conferem com o conjunto de empresas exportadoras mapeadas pelo governo. "Esse é o universo das entrevistadas pela pesquisa.
Mas, de fato, o câmbio é especialmente prejudicial para as companhias de menor porte", reconheceu. Os dados oficiais computam 15.541 empresas exportadoras entre janeiro e junho. O volume recuou apenas 0,6% em relação às 15.630 companhias existentes no mesmo período do ano passado, mas ficou 7,18% abaixo das 16.744 firmas registradas em 2000. "É preciso lembrar que muitas empresas têm se voltado para o mercado doméstico, que cresce em um ritmo mais acelerado que o internacional", disse ela.
A nova política industrial, batizada agora de Brasil Maior, será anunciada hoje pela presidente Dilma, no Palácio do Planalto, para uma plateia de empresários, autoridades e sindicalistas. "Ela terá foco em inovação, investimento e aumento da competitividade. Não adianta achar que vai ficar lidando aí com medidas de defesa comercial para tampar um buraco aqui, outro ali", avisou Tatiana.
Um dos temas espinhosos é a desoneração fiscal, sobre o qual ainda ontem não havia consenso. Pela manhã, Dilma reuniu-se com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para acertar os termos da medida provisória que vai tratar do assunto. A nova política industrial faz parte do Programa de Inovação Brasileira (PIB), que inclui ainda um Projeto de Lei Complementar que eleva de R$ 2,4 milhões para R$ 3,6 milhões o teto de faturamento para enquadrar as pequenas empresas no Supersimples.
Sindicalistas boicotam Dirigentes das principais centrais sindicais anunciaram que não vão participar do lançamento da nova política industrial. Eles saíram de uma reunião com o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, reclamando da redução dos encargos previdenciários das empresas e reivindicando a criação de uma câmara setorial para tratar do assunto. "O governo não falou qual o percentual (de redução). As centrais não vão participar do lançamento da política. Há quatro meses tentamos construir uma proposta conjunta e não fomos ouvidos", afirmou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Miguel Eduardo Torres. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) também não irá à solenidade. "Todas as centrais foram contra. Somos favoráveis à desoneração, mas não do jeito que está sendo colocado. Uma coisa é o governo Dilma, outra é o futuro da Previdência", disse o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva.