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O Paraná possui cerca de 4,2 mil indústrias têxteis e de couro, que produzem mais de 150 milhões de peças de roupas por ano. Não se sabe a quantidade exata de resíduo gerado por todo este setor, mas não é pouco. Tratar o rejeito gerado vai mais além do que simplesmente cumprir leis. Novos estudos e tecnologias estão abrindo portas para empresas fazerem dinheiro com as "sobras". Mas é preciso ficar atento às oportunidades.
Uma das alternativas de destino para as sobras na linha de produção das confecções está na indústria automotiva e de colchões. Restos de retalhões, tecidos e outros materiais já estão sendo utilizados no revestimento de bancos nos carros e em alguns modelos de colchões.
Uma novidade apresentada durante o maior evento da construção civil e industrial do mundo, o Salão Batimat, em Paris, chamou atenção dos profissionais brasileiros. A parede divisória que utiliza restos de confecções têxteis (fios, retalhos de panos) e de abatedouros de aves (penas), misturados com material adesivo. Forma-se uma pasta que é comprimida entre placas de madeira compensada. "O resultado é um conjunto com excepcional resposta em medições de resistência mecânica, térmica e acústica, inúmeras vezes superior ao drywall", avalia Carlos Sérgio Asinelli, coordenador de Parcerias do Centro Internacional de Inovação (C2i), da Fiep.
Um exemplo bastante interessante de como a indústria têxtil pode aproveitar a geração do seu resíduo é apontado na pesquisa realizada na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Eles avaliaram que é possível utilizar resíduos líquidos de tingimento na composição de tijolos cerâmicos, utilizados em grande escala na construção civil. O estudo mostra que é possível fabricar os tijolos com até 20% de resíduo de lavanderias industriais incorporados na argila.
O processo de lavagem em lavanderias industriais utiliza grande quantidade de produtos químicos que conferem maciez, brilho, solidez e cor às peças. Os corantes que não se aderem à fibra durante o tingimento são descartados nas etapas de lavagem e conferem cor ao efluente. Parte deste resíduo químico, em princípio liquido, solidifica-se. Este material, que antigamente tinha que ser destinado a lixões preparados para recebê-lo, pode ser reaproveitado.
"Tijoboi" - No caso mais específico do couro, em São Paulo e no Rio Grande do Sul, um problema ambiental gerado a partir do depósito de raspas de couro em aterros sanitários acabou culminando em novas descobertas para a construção civil e setor elétrico. As sobras de couro contêm alta dosagem de cromo - substância utilizada no processo de curtimento da pele bovina. Por não ser degradável, o cromo tornou-se um risco de contaminação do solo e do lençol freático nas regiões onde as raspas são depositadas. A substância é um metal pesado que pode causar alergias e até câncer, caso esteja presente em grandes quantidades no corpo humano.
O Departamento de Engenharia Civil da Unesp, desenvolveu o tijolo de boi, apelidado de Tijoboi. Os estudos mostraram que as raspas do couro podem ser utilizadas na fabricação de tijolos. "Usamos 20% de resíduo em relação à quantidade de massa do cimento. Os ensaios de caracterização física e mecânica dos tijolos mostraram resistência à compressão simples superior aos de barro cozido", conta o engenheiro civil e professor da Unesp Adilson Renófio.
A desvantagem apontada no começo do estudo foi o custo final, cerca de 20% mais caro que o normal. "À medida em que a matéria-prima do tijolo comum tornar-se escassa, ou o cimento reduzir de preço, fato que hoje se verifica, a fabricação do tijolo de raspas de couro será mais viável", anima-se Renófio.
Outros estudos feitos pela equipe da Unesp apresentaram resultados animadores. Os resíduos foram usados na produção de placas para pisos (do tipo "Paviflex"), móveis e divisórias. O processo de produção é mais curto do que o de chapas de madeira. O próximo passo do estudo será definir o custo de produção em escala comercial. Apesar do apelo econômico e ambiental, tanto o tijolo quanto as placas ainda não entraram em escala industrial de produção devido à falta de equipamentos adequados.