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Camila Nobrega
Pouco mais de um ano atrás, a cerâmica Sulamérica, no município de Itaboraí, no Rio de Janeiro, começava seus primeiros cálculos para saber quantas toneladas de créditos de carbono poderia negociar no mercado voluntário. A fábrica havia substituído o óleo diesel nos fornos por biomassa de resíduos de madeira, e feito mudanças para melhorar as condições de trabalho dos funcionários.
Com isso, começava a gerar créditos de carbono. Nessa época, uma equipe de reportagem do Razão Social visitou as instalações.
O projeto cresceu. E, junto com a cerâmica GGP, de Paraíba do Sul, a Sulamérica fez sua primeira grande venda: vai neutralizar um dos maiores festivais do mundo, o Rock in Rio, que aconteceu no final do mês passado. Oito mil toneladas emitidas no evento serão compensadas.
Em sete dias de festival, e com o vaivem de cerca de cem mil pessoas por dia, o evento causou grandes impactos no local. Transporte de material, do público, lixo, entre outras coisas. Por isso, segundo a vice-presidente de sustentabilidade do Rock in Rio, Roberta Medina, surgiu a ideia de fazer a compensação, comprando créditos de carbono de empresas do Estado do Rio de Janeiro. No total, o festival investiu quase R$ 100 mil no projeto, desde o planejamento até a compra dos créditos das cerâmicas.
- Entra na conta, por exemplo, as emissões de CO2 devido ao transporte que será usado pelo público. E também todo o transporte logístico do festival. Só não calculamos o transporte de avião dos convidados e público de outros estados ou países para cá, porque entraríamos em números impossíveis de serem compensados. O melhor é que, a partir da necessidade de neutralização, estamos pensando mais em formas de reduzir as emissões de carbono. Todo mundo quer um evento desse porte, é cultura, mas existe um passivo por trás.
O projeto de geração de créditos de carbono nas cerâmicas foi idealizado pela consultoria Sustainable Carbon, que acompanha até hoje todos os projetos das cerâmicas. Em todo o Brasil, já são 42 projetos distribuídos por 55 empresas diferentes, não só no Rio de Janeiro, como também no Mato Grosso, Pará e outros estados. A negociação é feita no mercado voluntário de carbono, já que falta regulamentação para um mercado formal. Esse fator reprime a demanda por neutralização no Brasil, mas, no exterior, o mercado está mais maduro.
Segundo a coordenadora jurídica da Sustainable Carbon, Cínthia Caetano, cerca de 85% dos créditos são comprados por empresas estrangeiras. Já foram vendidos créditos para corporações como a Fundación Chile, a Vinedos Emiliana S.A,e a Interface Global, além da Disney. Já no Brasil, entre os compradores recentes estão a Suzano Papel e Celulose, a Natura e a ONG Care.
- Estamos vendo um crescimento grande do mercado voluntário de carbono no Brasil. Ele ainda anda lentamente, porque não é regulamentado, e não se aproxima da popularidade do mercado na Europa, mas a conscientização tem crescido. De qualquer forma, a atmosfera é uma só. E os impactos feitos lá podem ser compensados aqui.
Agora, os projetos estão sendo expandidos para novos estados do país, como Maranhão, Goiás e Acre. Já existem projetos no Pará e em Tocantins. E a as alternativas de combustíveis também cresceram. No Mato Grosso há cerâmicas usando glicerina, resíduo da produção de biocombustível, no lugar da madeira nativa que era utilizada. Segundo o presidente da Associação Nacional da Indústria Cerâmica (Anicer), Luis Lima, há também experiências com biomassa como castanha de caju e café: - Está tudo sendo estudado em parceria com o Sebrae e a Embrapa, como fontes de energia. Não podemos ser inocentes de dizer que de ontem para hoje estamos às mil maravilhas. Mas já melhorou uns 50%. Ainda podemos melhorar as questões sociais. Há cerâmicas no interior que são a única fonte de emprego em algumas cidades.
Este ano, o Inea fechou duas fábricas na cidade de Paraíba do Sul, porque usaram madeira nativa. Mas o número de casos vem caindo. Dez anos atrás, o setor de cerâmica era considerado um dos principais vilões pelos grandes impactos ambientais, especialmente pelo desmatamento, e também por péssimas práticas trabalhistas. O número de acidentes era altíssimo, havia índices altos de trabalho mal remunerado e a participação das mulheres era quase nula.