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A construção civil é responsável por até 50% do total de resíduos sólidos
gerados no Brasil. Segundo dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, estudo realizado pela Associação
Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), os municípios brasileiros coletaram
cerca de 31 milhões de toneladas de resíduos de construção e demolição (RCD) no
ano passado, 8,7% a mais que em 2009. "Trata-se de um dado preocupante, já que as quantidades reais são ainda
maiores, visto que os municípios em geral coletam somente os entulhos abandonados ou indevidamente lançados
em logradouros públicos", afirma o pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, Sergio Ângulo. Atualmente, dispomos de um arcabouço legislativo e de marcos regulatórios por meio da Política Nacional
de Resíduos Sólidos, da Resolução 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e da Política
Nacional de Saneamento Básico, que colocam o setor no tema com alguma maturidade. Porém, segundo Ângulo,
a maior parte dos resíduos gerados na construção civil vem de autoconstruções e reformas
e, na maioria das vezes, não são destinados corretamente porque não há conhecimento da população,
que acaba jogando os entulhos no lixo comum - ou ainda depositando-os em terrenos baldios, praças, ruas e encostas
de rios. Em vigor desde 2003, a Resolução 307 do Conama estabelece uma regra simples e óbvia: quem gera entulho
deve se responsabilizar pelo transporte e destinação adequada desses materiais. Ou seja, entulho jogado em áreas
públicas ou despejado em terrenos particulares pode gerar multas ou ainda o responsável pode responder uma ação
na justiça. A deposição clandestina de entulho agrava os impactos ambientais, uma vez que provoca o assoreamento de córregos,
o entupimento de redes de drenagem e, como consequência, em alguns casos, as enchentes urbanas. Os aterros ilegais,
por sua vez, acabam por se tornar locais atrativos para destinação a baixo custo, agravando o problema. Reciclagem De acordo com dados do Instituto Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (IBDS), aproximadamente 90% dos resíduos
da construção civil podem ser reciclados. "A comercialização e reutilização dos
produtos podem reduzir custos e diminuir o volume de guarda e transporte dos itens, gerar receitas diretas com a venda ou
indiretas por meio de doações e redução do consumo de energia da extração de recursos
naturais", revela o presidente do IBDS, Carlos Renato Garcez do Nascimento. Inúmeras pesquisas em universidades apontam caminhos para o reaproveitamento desses resíduos. Em usinas de
beneficiamento, o entulho vermelho (restos de tijolos, telhas, blocos cerâmicos e terra) se transforma em um agregado
reciclado que pode ser utilizado como base e sub-base na pavimentação de ruas, por exemplo. Já o entulho
cinza, composto por restos de concreto, vira areia reciclada (ideal para argamassa de assentamento) e brita de diversas granulometrias. Em Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba (PR), foi inaugurada em maio de 2011 uma usina
de reciclagem de materiais de construção - a Usipar. O processo usado na fábrica recolhe resíduos
do tipo A, que inclui a caliça das obras de construção (restos de material cerâmico, concreto,
argamassa) e tritura, transformando os materiais em areia, brita, pedrisco e rachão, que serão comercializados
para uma nova utilização na construção civil com o preço 25% mais barato que os produtos
não reciclados. Além disso, o processo evita a extração desses materiais no meio ambiente. Atualmente, apenas cerca de 5% do total de resíduo gerado na construção civil é reciclado no
Brasil. Na Europa e nos Estados Unidos, a prática da reciclagem do entulho já está consolidada. A Holanda,
por exemplo, recicla 95% do entulho. Para Sérgio Ângulo, o processo de reciclagem de resíduos sólidos
da construção civil no Brasil ainda está muito precário. Segundo o pesquisador, a Política
Nacional de Resíduos Sólidos pode até regulamentar a gestão de resíduos, mas ainda é
necessário evoluir a discussão sobre reciclagem. "Primeiro temos que resolver a questão global de gestão
de resíduos para depois cuidar de resíduos da construção", diz. Ângulo acredita que as dificuldades da gestão de resíduos na construção começam
pelos fatores culturais: "dificilmente o engenheiro vai parar de trabalhar na obra para implantar um sistema de reciclagem
no canteiro", afirma. O pesquisador também demonstra preocupação com a qualidade do material reciclado,
já que muitos produtos apresentam problemas. "Nós temos de olhar com mais atenção para o que ainda
não tem como ser reciclado", complementa. Ele cita como exemplo a madeira com biocida, o gesso misturado com concreto
e a argamassa pigmentada. Segundo Ângulo, o setor de construção civil enfrenta três principais desafios em relação
à gestão de resíduos: a difusão da resolução Conama 307 em pequenos municípios,
de forma a eliminar o descarte ilegal; a introdução de práticas de redução da geração
de resíduos para geradores informais e a disseminação de tecnologias apropriadas de reciclagem e práticas
de controle de qualidade deste material que permitam reverter os indicadores de reciclagem nacionais. Recursos Disponíveis Visando estimular a reciclagem de resíduos de construção e demolição - e seu reaproveitamento
nas obras - além de promover a educação ambiental e a mobilização da sociedade, a Caixa
Econômica Federal lançou chamada pública para implementação de projetos para gestão
de resíduos sólidos de construção e demolição, feitos por consórcios públicos
e prefeituras municipais. O Fundo Socioambiental Caixa poderá aplicar até R$ 3,8 milhões nos projetos.
O investimento contribuirá para a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Segundo estimativas do
banco oficial, de 40% a 70% dos resíduos urbanos são de construção e demolição,
gerados na construção da infraestrutura urbana. Boas Práticas A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) prevê que cada município deve criar um
programa de gestão dos resíduos da construção civil, justamente para que possa ter autonomia para
decidir como resolver o problema - já que não há uma receita ou fórmula de sucesso a ser copiada
por qualquer um em qualquer lugar. No estado de São Paulo, as prefeituras de São José do Rio Preto e Americana criaram pontos de entrega
voluntária de entulho, contrataram aterros e construíram usinas de beneficiamento que reciclam os resíduos,
transformando-os em matéria-prima de qualidade para obras públicas. São José já consegue
reciclar cerca de 80% de todo o entulho gerado nas obras que ocorrem na cidade. Outro exemplo interessante no estado é
Guarulhos, que também conta com uma usina recicladora de entulho. No Paraná, a empresa Kürten lançou recentemente, em parceria com grupo de empresas alemãs, a
primeira franquia nacional de casas pré-fabricadas em wood frame, sistema construtivo que agiliza processos e reduz
o impacto ambiental na construção civil. As estruturas das moradias são feitas em ambiente industrial,
com sistemas totalmente automatizados e com alto controle de qualidade. Além da rapidez, é possível ter
uma "obra seca e limpa", que dispensa o uso de cimento, tijolos e armações convencionais. Por ser planejada
de forma racional, praticamente não há desperdício de materiais. Outro exemplo de sustentabilidade na construção civil refere-se à demolição do antigo
pavilhão do Parque Barigui, em Curitiba - que dará lugar a um moderno centro de eventos. Cerca de 500 toneladas
de ferragens, madeira, telhas, peças de granito, globos de luz, divisórias, pias e torneiras serão reutilizadas
pelo município em diferentes equipamentos urbanos. O plano do consórcio de empresas, responsável pela
construção e operação da obra, é a utilização integral de todo o material
gerado pelo trabalho. O que não puder ser destinado à reciclagem será utilizado na própria construção
do novo centro. A estimativa é que 200 toneladas de resíduos sejam utilizadas na própria obra. Em abril de 2011, a ONG brasileira Curadores da Terra foi a vencedora do Concurso Internacional Ashoka / Fundação
Rockfeller - Sustainable Urban Housing -, com a proposta de uma casa ideal - construção que prevê o reaproveitamento
total de todos os resíduos plásticos, orgânicos e minerais. O modelo será replicado em toda a América
do Sul, Central e Caribe, e levada ao Summit of Americas e Rio +20, ambas em 2012. Fórum Nacional As discussões sobre o papel da construção sustentável no desenvolvimento das cidades tiveram
início no 4º Simpósio Brasileiro de Construção Sustentável (SBCS11), promovido pelo
Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS), no mês de agosto, na cidade de São
Paulo (SP). Em outubro, as discussões continuam no Fórum Nacional e Feira Internacional de Resíduos Sólidos
- o Sustain Total, em Curitiba (PR). O evento, que acontece de 5 a 7 de outubro, faz parte de uma rede de feiras internacionais de resíduos sólidos
(Reino Unido, Dubai, Coreia do Sul e Estados Unidos) e tem por objetivo de integrar parceiros estratégicos e compartilhar
soluções entre os continentes, além de fomentar a discussão sobre as questões abordadas
na PNRS. Promovido pelo IBDS, o evento traz as principais tecnologias e modelos de gestão de resíduos sólidos
de países líderes da Europa, América e Ásia. A feira reúne as principais soluções
e equipamentos a setores produtivos, empresas públicas e governos municipais, de forma a contribuir para uma melhor
elaboração, desenvolvimento e gerenciamento dos planos municipais. O encontro conta com uma programação
completa de painéis de debates, reunindo mais de 50 palestrantes, sobre 24 temas relacionados à gestão
de resíduos sólidos. Segundo o presidente do IBDS, Carlos Renato Garcez do Nascimento, a promoção de debates sobre os resíduos
sólidos na construção civil visa a superação de desafios internos e externos ao longo da
cadeia produtiva. "Só assim, poderemos assegurar avanços no estágio atual de gestão de resíduos
sólidos do setor, como: a promoção e a implementação da autorregulação; o
exercício efetivo e obrigatório da logística reversa e a formalização de fluxos de forma
que esteja explícita a matriz de responsabilidades no pós-obra, exigindo-se a plena legalidade de atuação
dos agentes transportadores e receptores", finaliza. Mais informações e inscrições para o evento
podem ser encontradas no site www.sustaintotal.com.br. Sustain Total - Brazil Waste Summit 2011 5 a 7 de outubro de 2011 ExpoTrade - Curitiba - PR www.sustaintotal.com.br Twitter: @SustainTotal Facebook: SustainTotal Brasil Inscrições: https://credenciamento.websiteseguro.com/inscricoes/?ev=CONGSUSTAIN2011