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Francisco Góes
"Antes não havia como vir para cá", diz um executivo brasileiro em Bogotá
A melhora da situação de segurança pública na Colômbia abriu as fronteiras do país para o investimento estrangeiro. E o capital brasileiro, que até dez anos atrás era quase desconhecido dos colombianos, vêm crescendo em setores como mineração e siderurgia, petróleo, transportes, engenharia e serviços de tecnologia da informação e comunicação. Antes não havia investimentos brasileiros na Colômbia porque não havia como vir para cá, disse executivo de grupo brasileiro que mora em Bogotá e que preferiu não se identificar.
O impeditivo, afirmou ele, eram os índices de violência. Do início dos anos 2000 para cá, os homicídios caíram pela metade, segundo cifras do governo colombiano. Eram 65,8 homicídios por 100 mil habitantes, em 2002, número que caiu para 31,2 por 100 mil em novembro de 2010. O executivo que conversou com o Valor mora há cerca de quatro anos em Bogotá, circula em carro blindado, mas nunca sofreu com a violência.
Entre as empresas brasileiras presentes na Colômbia, estão Vale, Votorantim, Gerdau, Odebrecht, Marcopolo, grupo EBX (OGX, MPX e AUX), Oi, Stefanini, Datasul, Gol e Tigre. A maior presença do Brasil na Colômbia não criou resistências às multinacionais brasileiras, como já se viu em outros países da América Latina. Um dos casos bem-sucedidos é o da Marcopolo, fabricante de carrocerias para ônibus de Caxias do Sul (RS), que associou-se a uma empresa colombiana e montou a Superpolo. A empresa, em Bogotá, produz um portfólio completo de carrocerias para ônibus urbanos e rodoviários.
A Superpolo é um dos principais fornecedores de ônibus urbanos, articulados e biarticulados, para o projeto Transmilenio, sistema de BRT (Bus Rapid Transit) existente na capital colombiana. São corredores segregados para transporte de massa. A Superpolo participa com cerca de 60% dos ônibus fornecidos para o Transmilenio, disse o gaúcho Oscar Barbieri, gerente-geral da Superpolo. Segundo ele, a Superpolo passou a usar a Colômbia como plataforma de exportação para Equador, Venezuela, Peru e América Central. Para Barbieri, os investimentos em segurança criaram um clima favorável aos negócios na Colômbia: Em 2010, a Marcopolo fez em Bogotá uma convenção reunindo seus vendedores do mundo inteiro.
Entre 2000 e 2010, os principais investidores estrangeiros na Colômbia foram Estados Unidos, Inglaterra, Espanha e México. O Brasil vem ganhando espaço, embora ainda exista grande potencial de crescimento. O auge do investimento brasileiro na Colômbia foi em 2007, com US$ 529 milhões, excluindo o setor petróleo. Em 2010, o número atingiu US$ 54 milhões. Um dos novos entrantes é a OXG, do empresário Eike Batista, que em 2010 adquiriu cinco concessões em três bacias petrolíferas. A empresa se comprometeu a investir cerca de US$ 125 milhões em três anos, recursos a serem aplicados no programa exploratório.
Outra empresa nova no mercado colombiano é a Stefanini, da área de serviços de tecnologia da informação, que comprou o controle da empresa Informática e Tecnologia, com sede em Bogotá, por valores não revelados. Há empresas brasileiras que estão há mais tempo no país. É o caso da Gerdau, presente na Colômbia desde 2004, quando assumiu o controle da Diaco, principal siderúrgica colombiana.
A Gerdau investiu US$ 684 milhões no país, incluindo compra de unidades industriais, atualização tecnológica e ampliação das fábricas. Na visão do grupo, o mercado colombiano de aço tem boas perspectivas de crescimento e, como resultado desse cenário, há novos investimentos em curso para atender a demanda por aço. Em 2012, a Gerdau vai colocar em operação um terminal portuário para embarque de carvão e coque.
Em 2000, ainda sob efeito dos conflitos armados, a situação dos investimentos na Colômbia era muito diferente. Naquele ano, o país recebeu US$ 2,4 bilhões em investimentos estrangeiros diretos (IED), número que no ano passado situou-se em US$ 6,76 bilhões. A expectativa para 2011 é que os fluxos de investimento direto no país possam superar os US$ 10 bilhões. Se a previsão se confirmar, a Colômbia estará voltando aos patamares de 2008, quando recebeu US$ 10,5 bilhões em IED.
Dados do Banco da República da Colômbia indicam que os fluxos de IED recebidos no ano passado, equivalentes a 2,4% do Produto Interno Bruto (PIB), se concentraram nas atividades de petróleo e mineração. Mas os setores financeiro, a indústria manufatureira, a construção, o comércio e serviços, como hoteleira, também receberam aportes. Entre os incentivos para atrair investimento estrangeiro, a Colômbia deu a isenção de imposto de renda por 30 anos para quem investir em hotéis.
Adriana Suárez, diretora-executiva da agência de promoção de investimentos Invest in Bogotá, disse que dez novos hotéis serão abertos na capital até o fim de 2012. Em uma única semana deste mês, ela recebeu quatro fundos de investimento que queriam conhecer as oportunidades de negócios em Bogotá e na Colômbia, interesse que ela atribuiu ao fato de o país ter ganho o grau de investimento de agências de classificação de risco.
Em Medellín, segunda maior cidade do país, a HP está investindo na montagem de um centro global de serviços para atender a América Latina. A HP tornou Medellín visível para o mundo, disse Mónica Pérez, diretora-executiva da Agência de Cooperação e Investimento (ACI) do município. Segundo ela, no Vale do Aburrá, onde estão Medellín e outros municípios de sua região metropolitana, existem 147 empresas que receberam aportes de investimento estrangeiro direto, sendo que 30% desse total correspondem a empresas dos EUA.