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As siderúrgicas terão em 2011 um ano bom, segundo avaliam executivos da CSN, Usiminas e Gerdau. No mercado interno, os investimentos em infraestrutura motivados pela Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, as obras do PAC e a exploração do pré-sal em conjunção aos seguidos recordes de produção da indústria automobilística prometem dar impulso ao consumo de aço, apesar das projeções de desaceleração da economia. No front externo, as projeções de vendas para a China sustentam o otimismo.
A Usiminas trabalha com a perspectiva de que o Brasil possa entrar em um novo patamar de consumo de aço nos próximos anos, diz Sergio Leite, vice-presidente de negócios da empresa. Hoje, o consumo anual per capita de produtos siderúrgicos no país está em torno de 100 quilos. Nos países desenvolvidos, diz, a média é de 400 quilos. A projeção da companhia e de outros players do setor é que o Brasil possa encerrar esta década com 250 a 300 quilos por habitanteano.
"Estamos bastante otimistas, a demanda está aquecida", avalia no mesmo tom o diretor de mineração da CSN, Jayme Nicolato, que recentemente visitou clientes na China, um dos principais mercados compradores do metal extraído pela empresa. "Só neste ano, os chineses vão investir na construção de dez milhões de apartamentos e de cinco mil quilômetros de ferrovias de alta velocidade. A indústria automotiva também deve crescer nos próximos anos: a intenção é de que a relação de 34 carros por mil habitantes passe para 100 carros por mil habitantes em 2020", diz o executivo.
Os sinais de mercado no primeiro trimestre do ano, que considera promissores, são a base de projeção de redução das importações de aço no Brasil, feita pela Gerdau. As três empresas dizem estar preparadas para responder ao aumento da demanda. Mais integrada siderúrgica nacional, a CSN planeja crescer nos próximos anos com base em uma estratégia orientada por investimentos nos setores de aço, mineração, energia, logística e cimento, o que ampliará sua atuação e diversificará seu portfólio de projetos. Um destaque nesse conceito tem sido a área de mineração, na qual a empresa é autossuficiente e pretende ampliar sua produção e venda de minério, tanto nas operações da Namisa, na qual detém 60%, quanto nas da mina de Casa de Pedra.
Em 2010, as receitas de mineração chegaram ao valor recorde de R$ 3,6 bilhões, um crescimento de 84% em relação a 2009. O segmento respondeu por 24,4% dos R$ 14,5 bilhões de receita líquida apurados em 2010, uma fatia recorde. Em 2009, o minério representou 16% da receita líquida da CSN, sendo que há quatro anos, em 2007, o número estava em apenas 6%.
"Minério e siderurgia responderam por 91% da receita em 2010", afirmou Paulo Penido, diretorexecutivo e de relações com os investidores da CSN, em teleconferência com analistas. Para 2011, a expectativa da empresa é de que as vendas de minério atinjam cerca de 30 milhões de toneladas. O volume representaria alta de 20% em relação ao total comercializado em 2010.
Com base em projeções hoje confirmadas, a Usiminas tomou em 2008 decisões de investimento para atender ao novo perfil do uso de aço no país e a projetada mudança no padrão de consumo. Os investimentos foram orientados para produtos acabados com maior valor agregado. Em 2010, a Usiminas empregou R$ 3,2 bilhões com esse objetivo. Em 2011, mais R$ 2,8 bilhões estão sendo aplicados na produção.
A empresa acaba de inaugurar uma nova linha de galvanização por imersão a quente na Unigal, joint venture com a Nippon Steel em Ipatinga (MG). Com isso, ampliou a produção de 450 mil toneladas para 1 milhão de toneladas por ano. Para o primeiro semestre de 2012, está prevista a entrada em operação de um novo laminador de tiras a quente na unidade de Cubatão (SP), após investimento de R$ 2,5 bilhões. A expansão de 500 mil toneladas na produção de chapas grossas em Ipatinga também deve ser concluída no próximo ano.
O vice-presidente da Usiminas afirma que a produção oriunda dos novos investimentos já tem demanda assegurada. Nos últimos anos, a empresa detectou a necessidade de importar material revestido e laminado a quente para atender aos pedidos. Com os investimentos, essas importações deixam de ser necessárias.
Para fechar a equação, a matéria prima é estratégica. Na CSN serão investidos R$ 2,4 bilhões na área de mineração neste ano. No segmento, a empresa detém 60% da Namisa, sendo que o restante está nas mãos de parceiros, que adquiriram a fatia de 40% do capital da mineradora por US$ 3,08 bilhões no fim de 2008. Nesse momento, todos os sócios estão debruçados fazendo o plano de negócios da operação. Também é discutida nesse consórcio a integração entre as operações da Namisa com a mina Casa de Pedra.
Com a reunião dos ativos de mineração e logística sob um mesmo guarda-chuva, uma possibilidade seria a abertura de capital da unidade. "Mas o processo continua sem data, continuamos c o nv e r s a n d o", diz Penido. A Usiminas também começa a amenizar o problema do aumento das matérias primas (minério de ferro e carvão) que tem afligido siderúrgicas no mundo a cotação internacional do minério de ferro aumentou mais de 140% em 2010. Há três anos a empresa decidiu investir R$ 4,1 bilhões na aquisição de jazidas de minério de ferro.
As minas adquiridas forneciam 4 milhões de toneladas por ano. Em 2010, produziram 7 milhões. Os planos indicam que as mesmas minas irão quadruplicar o fornecimento, com extração de 29 milhões de toneladas por ano a partir de 2015. "Com isso a Usiminas consegue fazer um hedge do minério. Pode comprálo e vendê-lo pelo mesmo preço", argumenta Leite. A Usiminas vai utilizar apenas metade da produção, cerca de 14 milhões de toneladas, e negociar o restante.
A Gerdau também tem procurado aumentar sua produção de minério de ferro: a empresa quer utilizar 75% de minério próprio na unidade Ouro Branco (MG), em 2011, e 100% no ano que vem. Hoje, a produção de minério da Gerdau em Minas é de 5,6 milhões de toneladas por ano. Em 2012, a siderúrgica pretende produzir 7 milhões de toneladas e estuda negociar parte da produção no mercado.
Segundo Leite, da Usiminas, siderúrgicas de todo o mundo conseguiram repassar para os preços do aço o aumento do minério de ferro, mas de forma parcial. Todas tiveram seus resultados afetados. A Usiminas, por exemplo, registrou 24% de aumento no lucro de 2010 em relação ao complicado ano de 2009, quando os efeitos da crise global se fizeram presentes, mas sofreu uma perda de lucratividade de 38% no último trimestre do ano.
Por Roberto Rockmann e Eduardo Belo