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A Dinamarca impõe taxa sobre alimentos ricos em gordura saturada, liderando um movimento que começa a ganhar adeptos
João Loes
Os famosos biscoitos amanteigados da Dinamarca ficarão mais caros. Desde o começo do mês, está em vigor no país escandinavo uma lei que taxa o quilo de produtos com mais de 2,3% de gordura saturada em cerca de R$ 5. Com isso, a manteiga, por exemplo, insumo básico da iguaria dinamarquesa, pode ficar até 30% mais cara. A medida, inédita no mundo, tem como objetivo reduzir o consumo de alimentos recheados da perigosa, mas saborosa, substância. Trata-se de uma decisão preventiva. Na Dinamarca, apenas 10% da população tem sobrepeso - no Brasil o índice é de 48% enquanto nos Estados Unidos, mais de 60%. A dúvida é: medidas como essa têm efeito? Boa parte dos especialistas diz que sim. "É simples, do mesmo jeito que o preço baixo estimula a compra, o preço alto a inibe", diz Walmir Coutinho, endocrinologista e presidente da Associação Internacional para o Estudo da Obesidade (Iaso).
Pesquisas embasam a opinião de Coutinho. Um estudo conduzido pela Universidade Oxford, na Inglaterra, mostrou que, se uma taxa como a que foi instituída na Dinamarca fosse colocada em prática no país, 3,2 mil vidas seriam salvas anualmente. A alta de preços reduziria, diretamente, a incidência de doenças como colesterol alto, aterosclerose e derrame. Para os médicos, o ideal seria que a nova arrecadação ainda subsidiasse hábitos alimentares saudáveis. "Hoje, o maior desafio da saúde pública nessa área é o custo", diz Coutinho. "Comer mal é mais barato que comer bem", resume o endocrinologista. Nesse sentido, a taxa sobre gorduras saturadas teria efeito positivo duplo - desestimulando o consumo de alimentos pouco saudáveis e barateando os saudáveis.
No mundo, iniciativas parecidas com a da Dinamarca estão tomando forma. Em nações europeias a gordura trans, por exemplo, já é proibida por lei e pelo menos dois países da região estudam a possibilidade de adotar um imposto nos moldes do dinamarquês (leia quadro). No Brasil, o que temos de mais próximo disso é um acordo firmado entre o Ministério da Saúde e a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) para zerar a gordura trans nos alimentos até 2013 e diminuir a ingestão de sal pelos brasileiros em 50% até 2020. Nenhuma lei, porém, está prevista. "Aumentar impostos funcionou bem com cigarro, não tem por que não funcionar com a gordura", diz Coutinho.