Rua General Teodorico Guimarães, 303, bairro Fanny
Curitiba/PR
Telefone: 41 3569-5692
Com problemas na colheita do trigo paranaense e o habitual preço mais baixo, a farinha argentina ganha ainda mais espaço nos produtos de panificação e massas brasileiros em 2011. Até setembro, foram importadas no total 524 mil toneladas, 93% provenientes da Argentina. O volume de todos os destinos é 13,9% superior ao registrado nos nove meses de 2010, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). O alento para os produtores paranaenses e que pode diminuir o ritmo das importações é a taxa de câmbio, com real pouco mais desvalorizado, e a pequena queda na produção argentina.
Além de contar com colheita de trigo menor em 2011/12, moinhos do Brasil avaliam que parte da nova safra tem vindo com problemas de qualidade. Segundo três representantes de indústrias de trigo, a qualidade é uma preocupação para a colheita que já supera 60% do total estimado no Paraná, o maior produtor brasileiro, especialmente por conta das geadas que atingiram o Estado.
A atual safra brasileira está estimada em 5,1 milhões de toneladas, contra 5,9 milhões de toneladas em 2010/11 (agosto/julho) e parte do volume esperado terá baixa qualidade, segundo a indústria. "Fizemos um mapeamento significativo de lotes no Oeste e Norte do Paraná e a nossa conclusão não é muito animadora. Temos visto trigo de qualidade muito aquém do desejável, principalmente em termos de falling number e W (força de glúten)", afirmou o presidente do Moinho Pacífico, Lawrence Pih. Para ele, não haverá mais do que 1 milhão de toneladas de trigo de boa qualidade no Paraná.
O gerente técnico e econômico da Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná), Flávio Turra, reconhece que há trigo de baixa qualidade, mas em volume menor do que o indicado por Pih. "Neste ano, especificamente, tivemos geada, o que afetou o trigo colhido mais cedo. Se procurar trigo de baixa qualidade vai achar, mas não é nessa expressão", disse Turra, considerando que a avaliação da indústria faz parte de uma estratégia de compra.
Aliado a isto está a concorrência desleal do trigo argentino. O país vizinho subsidia a exportação com diferenciais de taxação entre a farinha e o trigo - com vantagem para a farinha. "É mais vantajoso para o importador trazer uma carreta de farinha para o Paraná do que uma com trigo", avalia Everson de Almeida Leão, economista do Departamento de Coordenação de Desenvolvimento da fiep.
Ao taxar a exportação de trigo em 23%, o governo argentino mantém os preços internos do cereal mais baixos, resultando em custos menores aos moinhos locais. A preços atuais, a indústria moageira da Argentina está pagando cerca de US$ 180 por tonelada do cereal, enquanto no Brasil a indústria paga em torno de US$ 300 por tonelada.
Luiz Martins, presidente do Sindicato da Indústria do Trigo de São Paulo, diz que há moinhos nos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, na fronteira com a Argentina, que estão deixando de moer trigo para importar a farinha do país vizinho. "Essas empresas embalam e vendem como farinha nacional", lamenta Martins. O subsídio argentino está provocando já há alguns anos uma desindustrialização do setor. "Tínhamos em São Paulo, há 15 anos, cerca de 20 moinhos. Atualmente, há apenas 12 indústrias, fora as que estão funcionando a meia carga", informa o executivo da Abitrigo.
Alento - Apesar do pessimismo de boa parte da indústria de farinha paranaense, o economista da Fiep acredita que é necessário esperar um pouco mais para fazer uma avaliação mais precisa dos impactos do quadro atual. "Não se sabe exatamente o impacto do câmbio com real mais desvalorizado. Acredito que isso deva diminuir um pouco as importações", avalia Leão.
Outro ponto que pode contar desfavoravelmente aos argentino é a safra de trigo 2011/12, que deverá atingir 12,6 milhões de toneladas. A safra anterior fechou em 15,8 milhões de toneladas, segundou informou a Bolsa de Cereales de Buenos Aires. A instituição realizou sua primeira estimativa de produção para 2011/12, após fortes chuvas terem aliviado os temores relacionados a uma seca que atingiu os cultivos em setembro.