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CRISE GLOBAL
Itens importados típicos da ceia de fim de ano dos brasileiros, como bacalhau, castanhas, vinhos e frutas cristalizadas, têm os preços regulados pela moeda norte-americana
GUSTAVO HENRIQUE BRAGA
A escalada do dólar nas últimas semanas, em meio à turbulência internacional, pode encarecer a ceia de Natal dos brasileiros, composta em grande parte por alimentos importados, como vinhos, castanhas, azeite de oliva, bacalhau e frutas cristalizadas. A moeda norte-americana disparou no momento em que a maior parte dos importadores prepara os contratos de compra para que as mercadorias estejam nas prateleiras em dezembro. Além disso, produtos como pães e massas também podem ser afetados, já que metade do consumo nacional de farinha de trigo é atendida via importação, sobretudo da Argentina.
Adílson Carvalhal Júnior, presidente da Associação Brasileira de Exportadores e Importadores de Alimentos e Bebidas (Abba), afirmou que boa parte dos itens da ceia de Natal dos brasileiros está hoje nos portos. "Com certeza haverá impacto nos preços, uma vez que são produtos muito sensíveis às oscilações do dólar e para os quais se adotam margens de lucro bem pequenas", disse. Com relação aos derivados do trigo, Chiquinho Pereira, presidente do Sindicato dos Padeiros de São Paulo, diz não ter dúvida de que a farinha vai aumentar, mas espera "que isso não prejudique o consumidor."
Carlos Mielitz, professor do curso de pós-graduação em desenvolvimento rural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), acredita que o preço do pãozinho pode aumentar, mais por especulação, no entanto, do que por um motivo real. "A cadeia produtiva pode aproveitar a valorização do dólar como justificativa para subir os preços, mesmo sem bases concretas", ponderou. José Jofre, presidente do Sindicato da Indústria de Alimentação de Brasília (Siab), concorda. "Infelizmente, quando a situação é oposta (de queda da divisa) os repasses não chegam para o consumidor", lamentou.
Na avaliação de Edmundo Klotz, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), caso a disparada do dólar se mantenha, os impactos na alimentação serão pontuais. "A produção nacional consegue suprir a maior parte do consumo. Nós exportamos US$ 37 bilhões em alimentos, e importamos apenas US$ 4 bilhões. As exceções são produtos específicos como trigo e azeite", disse. Klotz afirmou ainda que é cedo para se falar em repasse ao consumidor e que, se houver alguma alta, será por razões indiretas, tais como preços de máquinas, insumos e embalagens.
IPC-S desacelera
A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) ficou em 0,58%, o que representa uma desaceleração de 1,1 ponto percentual em comparação com a semana anterior. O resultado é consequência, principalmente, da perda de fôlego dos preços dos alimentos (de 1,39% para 0,90%) e de educação, leitura e recreação (de 0,23% para 0,15%). Apesar da trégua, os números da Fundação Getulio Vargas (FGV), mostram que cinco dos sete segmentos que têm seus preços apurados registraram aceleração: habitação (de 0,43% para 0,52%), vestuário (de 1,14% para 1,25%), despesas diversas (de 0,04% para 0,15%), saúde e cuidados pessoais (de 0,54% para 0,58%) e transportes (de 0,17% para 0,18%).