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Teste do Idec reprova 7 a cada 10 produtos analisados, por problemas de abertura, além de risco de acidente
Luciana Casemiro
Dente, faca, tesoura, garfo. Atire a primeira pedra quem já não usou um desses recursos para abrir uma embalagem. E, ainda assim, alguma vez, não teve sucesso. Abrir a embalagem de um produto pode não só ser uma tarefa árdua como também perigosa. É o que mostra o teste realizado pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) com 20 tipos de embalagens, classificando-as por grau de dificuldade na abertura. Setenta por certo foram consideradas com dificuldade média para alta. E, não à toa, as embalagens aparecem como a quarta causa mais relatada pelos consumidores no Banco de Acidentes do Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro), com 7,4% do total de registros. Desse montante, 36% causam afastamento do trabalho e atendimento médico.
- A maioria dos acidentes com embalagens está relacionada a produtos alimentícios. Os acidentes têm um custo para o consumidor e também para a sociedade. Nos Estados Unidos, gasta-se com acidentes de consumo, de forma geral, o equivalente ao PIB (total das riquezas produzidas no país) brasileiro. Aqui não temos ainda essa avaliação, por isso, é fundamental que o consumidor registre seu acidente no banco de dados, seja ele grave ou não - destaca Alfredo Lobo, diretor da Divisão de Qualidade do Inmetro.
Faltam instruções de abertura em 30% das embalagens
Entre os produtos avaliados no teste estão
CDs e DVDs, massas frescas, vidros de conserva, copos de iogurte e copos de azeitona. Coordenadora do projeto e consultora
técnica do Idec, Silvia Vignolia diz que as pessoas que participaram do teste tinham liberdade de tentar abrir a embalagem
da forma que achassem mais conveniente.
- Quando vimos uma das testadoras tentar abrir o lacre da garrafa plástica do vinagre com a boca, mandamos parar, não podíamos correr o risco de vê-la quebrando um dente. O vidro de palmito foi outra embalagem que os testadores não conseguiram abrir usando apenas as mãos. As embalagens de massa fresca também não puderam ser abertas sem o uso de faca ou tesoura, embora não houvesse indicação para uso desses instrumentos - relata Silvia.
Mercedes Sanchez, especialista em usabilidade, diz que no seu blog, o Tá Difícil (tadificil.wordpress.com), as embalagens estão entre os cinco assuntos mais reclamados:
- As reclamações se referem às dificuldades para abrir e também para ler o que está escrito nas embalagens. Há também queixas sobre mau funcionamento, que acaba causando desperdício do produto, como no caso das caixinhas com canudinhos de água de coco, achocolatados e sucos.
A falta de instruções para abertura, aliás, foi observada em 30% dos produtos testados pelo Idec.
- Quando o fabricantes dá informações ao consumidor está mostrando respeito, mas isso nem sempre significa que a embalagem é fácil de abrir - destaca a coordenadora do teste.
Segundo Silvia, nossa regulamentação de embalagens está mais preocupada com a questão sanitária do que com a segurança. Lobo, do Inmetro, também considera que é preciso maior vinculação da regulamentação do produto à embalagem:
- Além de estabelecer requisitos para os produtos, é preciso observar o manuseio da embalagem e identificar os riscos e como fazer para mitigá-los ou eliminá-los. Foi assim com o álcool. A regulamentação fez mudar a embalagem desse produto, o que ocasionou redução no número de acidentes.
Enquanto destampar uma lata de palmito pode ser uma missão quase impossível, abrir um detergente, desinfetante ou medicamento é tarefa que pode ser executada sem qualquer dificuldade, segundo o teste do Idec.
- Isso é preocupante, pois esses produtos são facilmente associados por crianças a comida. E são as causas mais frequentes de intoxicação. A indústria deveria adotar sistemas de abertura mais complexos, que dificultassem o acesso - avalia Silvia.
Luciana Pellegrino, diretora-executiva da Associação Brasileira de Embalagens (Abre), diz que, no caso de produtos de limpeza, há duas questões: segurança e praticidade de uso.
- Em relação aos medicamentos, o uso da tampa de giro falso, que dificulta a abertura, vem crescendo na indústria farmacêutica. Em relação a produtos de limpeza, a primeira abertura exige um esforço maior, mas como são produtos de uso contínuo, há exigência também por praticidade. Em ambos os casos, a indústria destaca nas embalagens que eles devem ficar fora do alcance de crianças. O consumidor também tem responsabilidade no uso e no armazenamento.
Luciana destaca ainda que o desenvolvimento econômico e social do país aumentou as opções de embalagens. E afirma que facilidade e segurança no manuseio são levadas em conta na elaboração de embalagens:
- São feitos testes de força em laboratórios e com consumidores - diz Luciana, acrescentando que, muitas vezes, há uma resistência proposital. - A maior resistência, algumas vezes, é para garantir a segurança de que o produto não seja violado ou sofra qualquer degradação antes do consumo.