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Foram quatro meses para o economista Everson de Almeida Leão, do Departamento de Coordenação de Desenvolvimento da Fiep, entrevistar os 50 proprietários dos 56 moinhos de trigo visitados que formam a base do Censo do Trigo no Estado. Ele conta que boa parte das informações mais interessantes saiu de conversas com os empresários. Elas mostram profissionalização do setor, a grande diferença entre empresas coloniais e industrias e preocupação com a concorrência argentina. "Fui muito bem recebido pela maioria dos empresários em todas as visitas que fiz. Eles entenderam que as informações serão importantes para elaborar estratégias de comercialização depois de conhecerem o perfil da indústria no Estado e o papel de sua empresa neste contexto", afirma o coordenador do projeto.
Números - O Paraná é responsável por 50% da produção de trigo de todo o Brasil. São 2,3 milhões de toneladas por ano que são produzidos a partir de diferentes realidades entre as indústrias. Os moinhos estão divididos em três categorias: coloniais, industriais e cooperativas. Os coloniais são voltados para farinha de uso doméstico, muitos ainda contam com equipamentos e silos com componente em madeira, o que não é permitido pela legislação. Os industriais têm nas grandes empresas de alimentos os principais clientes. Já as cooperativas estão bem organizadas com acesso a todo mercado. Uma destas cooperativas vai concluir um moinho que estará entre os maiores do Estado. O maior é o da Bunge, que, se estima, tem capacidade de moagem de duas toneladas de farinha por dia.
Os moinhos coloniais atendem somente os mercados locais, têm dificuldade de acesso à informação e ainda contam com um sistema de gestão pouco moderno. "Alguns ainda negociam parte da produção praticamente no sistema de escambo", revela Leão. O produtor de trigo leva sua produção ao moinho e recebe como pagamento farinha de trigo com o devido desconto pela moagem. Por isto, procuram outras culturas para auxiliar no orçamento. Alguns moinhos produzem farinha para misturar na cola utilizada na fabricação de outros produtos, como o compensado. Trata-se de uma farinha de menor qualidade, mas que ajuda na sobrevivência da empresa.
Já os moinhos industriais contam com sistemas de gestão altamente elaborados e grande atuação no mercado. As cooperativas também se destacam pela organização e também partilham da intenção em investimentos futuros em novas plantas. Dois moinhos do Paraná, visitados pelo pesquisador, já produzem farinha integral e de trigo orgânico. É um nicho de mercado pequeno, mas que não vem sendo muito explorado.
A indústria no Estado ainda conta com muitas organizações familiares. "Mas esta realidade vem mudando e a gestão dos empreendimentos está avançando", conta o economista. Algumas empresas já adotaram o sistema de sociedade anônima e outras estão em processo de consolidação de conselhos administrativos.
Mais mercados - Os paranaenses estão presentes em diversos mercados. Entre eles estão Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Neste último, as indústrias de pastifício e indústrias de panificação são os principais mercados dos produtores de farinha de linha industrial do Paraná. Detalhe interessante é que, diferente da farinha para uso doméstico, a marca do produto não é muito relevante para as indústrias de panificação, confeitaria e alimentícia. "O importante são as características reológicas da farinha, ou seja, a força da proteína, cor que o produto vai adquirir, maciez, estabilidade etc.", explica Leão.
Como nada se perde no processamento do trigo, em alguns momentos econômicos o subproduto do processo acaba sendo mais rentável que a própria farinha. "No Paraná, temos grandes indústrias de alimento animal que consomem muito a ração, que contém farelo do trigo", explica Leão. Em épocas de preço baixo da farinha, algumas empresas só moem os grãos para aproveitar os 25% de farelo oriundo do processo.
Outro assunto bastante comentado pelos industriais da moagem de trigo é a concorrência com o grão e com a farinha da Argentina. A indústria daquele país também é forte e conta com subsídios do Governo. Só quem não acha ruim são as empresas que importam o trigo argentino e, em alguns casos, até o produto moído. A farinha chega em caminhões, é ensacada no Brasil e vendida no mercado interno.