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Móveis:
Sérgio Ruck Bueno
Estimuladas pelo crescimento do mercado interno e desafiadas pela concorrência de segmentos que também se beneficiam da alta da renda dos consumidores, como eletrodomésticos e eletroeletrônicos, as moveleiras gaúchas estão investindo em expansão de capacidade, tecnologia e qualidade. O movimento se acentuou no fim de 2009, depois de dissipados os efeitos da crise econômica global de 2008, e deve se estender por pelo menos mais três ou quatro anos, acredita o presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Rio Grande do Sul (Movergs), Ivo Cansan.
Segundo o empresário, os segmentos que vêm apresentando melhor desempenho são os de móveis planejados, graças à ascensão da classe C, e corporativos. Com isso, indústrias como Marelli, Carraro e Unicasa, que faturam entre R$ 130 milhões e R$ 500 milhões por ano, estão tocando projetos de investimentos de R$ 12 milhões a R$ 30 milhões para obter ganhos de capacidade superiores de até 50%.
Em julho, a Carraro põe em operação novos equipamentos robotizados na unidade de mesas e cadeiras, uma nova linha de pintura de dormitórios e cozinhas e novas máquinas de usinagem para a fabricação de móveis planejados da marca Criare. O pacote é parte dos R$ 20 milhões em investimentos realizados nos últimos 15 meses e ajudará a empresa a ampliar em 18% o faturamento bruto deste ano em relação aos R$ 230 milhões de 2010, conforme o diretor comercial Rogério Francio.
De acordo com o executivo, os investimentos vão garantir atualização tecnológica da fábrica, além de permitir um ganho acentuado na capacidade instalada, já que a empresa vem operando a pleno em pelo menos um turno de trabalho. A linha que mais cresce é a de móveis planejados, vendidos em uma rede de 180 lojas exclusivas e que no ano que vem já deverão responder por até 45% do faturamento da Carraro, ante um terço atualmente, explicou.
Nos primeiros cinco meses de 2011, a receita no segmento de planejados cresceu 30% sobre igual período de 2010, enquanto nas demais linhas, distribuídas pelo varejo multimarcas, houve queda de 15%. As exportações para a América Latina e África respondem por 10% das vendas, mas a meta da empresa, controlada pelo grupo Todeschini, é elevar o índice para até 20% em três anos, apesar da valorização do real.
A Marelli, focada no segmento de móveis corporativos, investiu R$ 12 milhões em obras civis, novas máquinas para furação e colagem automatizada de bordas e um novo sistema de pintura para peças de metal, 50% mais produtivo e 30% mais econômico em consumo de energia do que a linha atual. Segundo o presidente da empresa, Rudimar Borelli, os novos equipamentos entrarão em operação também em julho e vão permitir um incremento de 55% na capacidade instalada da fábrica.
Essa ampliação permite suportar mais cinco anos de crescimento nas vendas, prevê Borelli. Com 90% do faturamento obtido no mercado interno, a Marelli projeta receita bruta de R$ 130 milhões em 2011, ante R$ 110 milhões em 2010. Neste ano a empresa também pretende aumentar de 32 para 40 o número de lojas exclusivas (que operam sob contrato de cessão de marca) no Brasil e em julho deve abrir a quinta unidade no exterior, desta vez em Lima, no Peru (as demais ficam no Uruguai, Paraguai e Bolívia).
A Unicasa, dona das marcas Dell Ano, Favorita e New, vai investir R$ 30 milhões neste ano, 50% a mais do que em 2010, para aumentar a capacidade instalada de 2,2 milhões para 3 milhões de módulos por ano. O volume será suficiente para gerar um faturamento de até R$ 600 milhões anuais, conforme informou ao Valor , em março, o diretor-presidente Frank Zietolie.
De acordo com o empresário, a previsão da empresa é fechar 2011 com faturamento bruto entre R$ 472 milhões e R$ 500 milhões, ante R$ 400 milhões no ano passado, quando a alta sobre 2009 já havia alcançado 23%. A expansão, explicou, será puxada pela linha de móveis planejados New, lançada em 2008 com foco na classe C, que terá a participação sobre a receita total ampliada de 20% para até 25% no período.
Segundo o presidente da Movergs, a entidade prevê para 2011 uma expansão de pelo menos 12% no faturamento das indústrias gaúchas no mercado interno e uma retração de 5% a 7% nas exportações (que no acumulado até abril recuaram 5,9%, para US$ 58,3 milhões). No ano passado, a receita total das empresas do setor no Estado somou R$ 4,6 bilhões (15,6% do total do país), sendo 92% provenientes das vendas domésticas. Os embarques ao exterior renderam US$ 210,8 milhões, ou 26,7% do total brasileiro.
Agora, conforme Cansan, além de expandir a capacidade instalada e o patamar tecnológico das empresas, os novos investimentos têm contribuído para aumentar o nível de emprego do setor. Desde o início de 2010 a Carraro ampliou em 16% o número de funcionários, para 700, e a previsão é acrescentar mais 5% até o fim do ano. Na Marelli, o quadro cresceu 12% desde o começo do ano passado, para 210 pessoas, e pode aumentar mais 5% até dezembro.
No total, as indústrias moveleiras e de produtos de madeira do Rio Grande do Sul empregam pouco mais de 56 mil pessoas. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, as empresas gaúchas nesses dois segmentos criaram 1,8 mil novas vagas de janeiro a abril, com expansão de 3,2% na base de trabalhadores com carteira assinada, e 3,5 mil nos 12 meses de 2010. Em todo o Brasil foram gerados 6 mil postos de trabalho nos quatro primeiros meses de 2011 e 32,2 mil no acumulado do ano passado.