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Móveis: Companhias do planalto norte catarinense passam a se dedicar mais ao mercado interno que ao exterior
Julia Pittan
O retorno ao mercado brasileiro é o caminho que os fabricantes de móveis do planalto norte catarinense encontraram para tentar reverter os prejuízos com a queda das exportações. Depois de quase uma década de dedicação às vendas para fora do país, o polo que reúne cerca de 450 empresas decide investir em design e em estrutura de vendas para atender aos clientes das classes A e B brasileiras.
O mercado nacional tem um consumidor mais exigente, mas as indústrias da região têm condições de atender a esse padrão, defende Márcio José Froehner, presidente organizador da Móvel Brasil 2011, feira do setor que reuniu 130 expositores na semana passada. Segundo o empresário, o setor não tem interesse em disputar a entrada nas redes populares de varejo. A intenção é ganhar espaço nas casas de decoração e design que atraem um público disposto a pagar o preço de um móvel feito com madeira, e não aglomerado ou MDF, materiais usados nas linhas mais populares. O uso de madeira de reflorestamento com um selo de sustentabilidade, batizado de Biomóvel, também é uma aposta das empresas da região para cativar o consumidor brasileiro.
Froehner é um dos sócios da Indústria Três Irmãos, de Campo Alegre. A estratégia da empresa que já tem 35 anos foi criar uma nova marca para atuar no mercado brasileiro. Batizada de CazaRara, a marca agrega salas de estar, jantar, home theater e escritórios e conseguiu ingressar este ano na Associação Brasileira das Indústrias de Móveis de Alta Decoração (Abimad). A entidade reúne 170 empresas, e a aprovação do portfólio de produtos é pré-requisito para o ingresso no grupo.
O empresário ainda mantém 52% da receita atrelada às vendas para o exterior, mas prevê uma redução para 35% nos próximos anos. Não quero perder as exportações, mas elevar as vendas no mercado interno, diz Froehner.
Apesar de algumas empresas da região ainda manterem negócios com compradores fora do país, as exportações vêm caindo. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior compilados pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), de janeiro a abril deste ano, as vendas de empresas catarinenses do setor para o exterior tiveram uma retração de 16,13% na comparação com o mesmo período de 2010, somando US$ 57,2 milhões.
Ivo Sandy Grossl, empresário que está há 26 anos no mercado, encerrou as exportações em dezembro do ano passado. Essa virada começou, para a Grossl, em 2009 quando a empresa começou a conceber os primeiros produtos pensando no mercado interno. Tivemos de montar uma nova equipe comercial. Partimos do zero, conta.
A decisão de encarar o mercado nacional e abrir mão da disputa fora do país demandou uma reestruturação. O número de trabalhadores, segundo Grossl, foi reduzido a 80% da equipe registrada em 2007.
Segundo dados da Fiesc, o setor de móveis em Santa Catarina teve uma redução de 11,68% na massa salarial real na comparação entre o primeiro trimestre deste ano e de 2010. No período também houve queda de 18,9% no faturamento das indústrias moveleiras. Apesar do declínio, entre março e fevereiro, as vendas cresceram 13,38%.
A Artefama, de São Bento do Sul, passou os últimos dez anos dedicada exclusivamente à produção de móveis para a exportação. A empresa de 66 anos mantinha a fama de ser a maior exportadora em volumes do país no auge das vendas. Com a crise financeira mundial no fim de 2008, a valorização do real e a retração da demanda externa, a empresa precisou rever seu posicionamento.
No fim de 2010, a companhia reduziu o número de funcionários de 900 para 500. Segundo Angelo Duvoisin, gerente comercial da Artefama, também houve a necessidade de montar uma nova equipe de representantes dentro do Brasil, com a contratação de 20 pessoas. De acordo com ele, o foco são as lojas de decoração.
No mercado externo, a Artefama manteve apenas as vendas para a Ikea, varejista sueca que tem mais de 200 lojas pelo mundo especializadas em venda de móveis. No Brasil, a Tok Stok é uma das principais clientes.
A previsão de Duvoisin é aumentar pelo menos 50% as vendas para o mercado brasileiro em 2011 na comparação com o ano anterior. O gerente comercial estima que seja possível atingir um faturamento de R$ 2,5 milhões mensais com o novo posicionamento.
Daniel Lutz, da Serraltense, com sede em São Bento do Sul, diz que hoje as vendas para fora do Brasil representam apenas 30% do faturamento da empresa. Desde 2009, a companhia, que foi fundada em 1947, voltou a pensar e desenvolver produtos para o mercado brasileiro. Com o portfólio preparado, Lutz está otimista com 2011. As empresas da região estão mais preparadas para atender o mercado brasileiro, diz.