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Classe C - Novos consumidores reforçam seus investimentos em móveis e bons acabamentos
Katia Simões
Teto de gesso rebaixado, luz indireta, piso de porcelanato, luminárias assimétricas e armários planejados. Até pouco tempo atrás esses itens não figuravam na decoração dos imóveis populares. Nos últimos cinco anos, porém, a chamada nova classe média, com renda familiar em torno de R$ 2,3 mil, descobriu as vantagens de contar com um serviço especializado na hora de decorar a casa, não se contenta com acabamentos de baixa qualidade, e forçou o mercado de construção civil a mudar a forma de pensar as novas moradias.
Até 2005, o setor imobiliário sobrevivia da oferta de imóveis para as classes A/B. Hoje, impulsionada pelo programa do governo Minha Casa, Minha Vida, a classe C passou a ser a mola propulsora do crescimento dos negócios na área de construção civil residencial. "Se a classe média fosse um país, cresceria mais do que a China e a Índia. Representa 53,1% da população brasileira e agregou nada menos do que 50 milhões de pessoas ao mercado consumidor desde 2003", afirma Renato Meirelles, diretor do Instituto Data Popular. Com mais dinheiro na mão - estima-se que neste ano as classes C e D tenham R$ 1 trilhão para gastar - elas sonham em primeiro lugar em dar educação aos filhos e, na sequência, em comprar a casa própria.
Segundo levantamento do Data Popular, 31,8% das mulheres da classe C pretendem comprar um imóvel nos próximos 24 meses e 43,2% têm intenção de reformar a casa em um ano. Tamanha disposição para deixar o lar mais apresentável e/ou ter o primeiro imóvel da forma sonhada provocam reflexos. O setor da construção civil cresceu 11,6% em 2010 em relação a 2009, o melhor desempenho dos últimos 24 anos, segundo dados do Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística (IBGE). Para 2011, de acordo com o Sindicato da Indústria de Construção Civil do Estado de São Paulo, as perspectivas são de uma nova expansão de 5%.
Segundo Sandro Marcondes Pincherler, professor de negócios imobiliários da pós-graduação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), o crescimento do setor não se deu apenas pela injeção de dinheiro na economia por parte dos novos consumidores. Também contribuíram para esse movimento o aumento da oferta de crédito especial para as camadas de baixa renda, a queda nos índices de desemprego e a nova pirâmide demográfica do país, que tem no seu topo pessoas entre 25 e 30 anos, faixa etária disposta a adquirir o primeiro imóvel.
"O mercado precisa entender que eles querem morar em áreas com boa infraestrutura e estão muito mais exigentes e informados", afirma. "O segredo está em investir em projetos de qualidade, não luxuosos, que se encaixem nos desejos e no financiamento disponível."
O 'boom' de expansão de negócios também foi verificado entre as franquias. "Nos últimos dois anos surgiram pelo menos dez novas bandeiras nas áreas de prestação de serviço, reformas, decoração e setor imobiliário", explica Ricardo Camargo, diretor da Associação Brasileira de Franchising (ABF).
Entre as novatas, está a Doutor Resolve, aberta em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, pelo empresário David Pinto. Especializada em reparos e reformas, a rede tem 200 unidades em operação e espera fechar o ano com 300 e um faturamento de R$ 100 milhões. "A proposta foi tão bem recebida pelos franqueados e pelos consumidores que criamos um modelo de franquia móvel, montada em uma Kombi, para atender cidades menores, com até 20 mil habitantes", diz o franqueador.
De olho no varejo de material de construção dos pequenos municípios e da periferia das grandes cidades, a rede Dicico, com 53 lojas próprias, iniciou há sete meses um processo de expansão diferenciado, apoiado na conversão de estabelecimentos já existentes para a sua marca. "São lojas bem localizadas, com bom fluxo de clientes, cujos donos conhecem muito bem a dinâmica da região onde atuam", diz Cláudio Fortuna, diretor de canais.
"Não abriríamos uma loja própria naquele local, mas podemos incrementar as vendas com treinamento, informatização, gestão e reforma do estabelecimento, aumento do mix de produtos e o aval da nossa marca". Até o final desse ano, a rede espera concluir quatro conversões e em 2012 dar fôlego à expansão, com 15 novos pontos.
As oportunidades efetivamente se multiplicam entre diversas atividades, de serviços de pintura de prédios a móveis com toque de design a preço acessível, além da oferta de mão de obra especializada em troca e colocação de pisos, decoração de interiores, oferta de revestimentos em geral e móveis planejados, por exemplo. "Ganhará mercado quem entender como funciona a cabeça desse novo consumidor", declara Alexandre Horta, sócio sênior da GS&MD, consultoria especializada em varejo.
Em um passado recente, a nova classe média trocou o piso de cimento queimado pela cerâmica fria e deu novas texturas às paredes com as variações de látex. Agora, chegou a hora de trocar os móveis por outros mais modernos, de melhor qualidade e na medida certa para cada cômodo da casa.
Conscientes de que perderiam mercado se não remodelassem suas linhas, os 400 fabricantes de móveis do polo de Ubá, que abrange oito municípios mineiros, procurou ajuda. "Decidimos investir em design, recrutamos profissionais em universidades e em parceria com o Sebrae conseguimos adequar a produção à qualidade exigida para a exportação", afirma Michel Henrique Pires, presidente do Sindicato da Indústria de Móveis de Ubá.
O polo moveleiro, considerado o terceiro maior do Brasil, abastecendo 51% demanda da Região Sudeste, se prepara para abrir uma loja piloto em São Paulo. "A ideia é apresentar ambientes bem montados, não muito chiques, mas capazes de chamar a atenção dos consumidores das classes C e D", revela Pires. "Os consumidores se baseiam em referências da TV, internet e revistas, querem investir em decoração e ter certeza de que o que estão levando caberá no ambiente. Para isso acontecer, só exibindo os ambientes prontos, uma tendência do varejo popular".